Título: FMI enterra consenso
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Fonte: Correio Braziliense, 05/04/2011, Economia, p. 14

O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, jogou ontem a pá de cal no Consenso de Washington, cartilha com diretrizes macroeconômicas liberais, impostas pelo organismo multilateral e pelo Banco Mundial (Bird) aos governos dos países subdesenvolvidos durante décadas. Em discurso na Universidade George Washington, na capital dos Estados Unidos, o número um do Fundo afirmou que, depois da crise global iniciada em 2008, o Estado deve exercer um papel maior na economia e controlar os excessos do mercado.

¿O Consenso de Washington tinha uma série de lemas básicos: regras simples para a política monetária e fiscal, que previam garantir a estabilidade, a desregulação e a privatização, liberalizando o crescimento e a prosperidade, e os mercados financeiros canalizariam os recursos para as áreas mais produtivas¿, explicou. ¿Tudo isso caiu com a crise. O Consenso de Washington já é passado.¿

Segundo Strauss-Kahn, diante da ascensão dos países emergentes como novos motores do crescimento mundial, esse entendimento deve ser superado, dando lugar a uma política econômica com ênfase na coesão social e no multilateralismo. O consenso, propagado durante os anos 1980 e 1990, foi apontado como responsável pela crise em países como a Argentina ou do Leste Europeu.

¿Ao designar um novo marco macroeconômico para um novo mundo, o pêndulo oscilará, ao menos um pouco, do mercado para o Estado, e do relativamente simples para o relativamente mais complexo¿, comentou Strauss-Kahn. ¿Claramente, a política monetária deve ir além da estabilidade de preços.¿ Ele afirmou que a busca por inflação baixa não deve ser feita apenas com o uso da taxa de juros, mas com outros instrumentos, como o controle da quantidade de dinheiro em circulação.

O economista voltou a defender um imposto sobre as atividades financeiras para forçar esse setor a assumir parte dos custos sociais de sua atividade inerentemente arriscada. ¿Não me entendam mal: a globalização trouxe resultados positivos e tirou centenas de milhões de pessoas da pobreza¿, disse. ¿Mas a crise e suas consequências alteraram fundamentalmente nossa percepção. Precisamos de uma nova forma de globalização, uma globalização com um rosto mais humano¿, acrescentou.

Na avaliação do executivo, os países ricos e os emergentes devem continuar com sua cooperação no G-20 (grupo das 19 maiores economias do mundo e a União Europeia) para assegurar que os interesses nacionais sejam superados. Ele endossou também as previsões de crescimento econômico mundial para 2011, anunciadas pelo órgão em janeiro. ¿Prevemos algo em torno de 4,5% este ano¿, afirmou.