Título: Papel da CPR no agronegócio
Autor: Ricardo Alves da Conceição
Fonte: Gazeta Mercantil, 23/08/2004, Opinião, p. A-3
Em dez anos, é a segunda fonte de recursos para o campo. A Cédula de Produto Rural (CPR) completou dez anos. Nesse período relativamente curto, tornou-se a segunda fonte de recursos para o setor rural. Estima-se o volume de CPR, com aval bancário ou não, em R$ 15 bilhões/safra. A CPR é emitida por produtores de todos os portes para os mais diversos produtos. É negociada, nas modalidades física e financeira, por intermédio de bolsas, internet, bancos, mesas financeiras, cooperativas. Criada para o produtor ter acesso a recursos de mercado, mostrou-se tão descomplicada na operacionalização que passou a ser utilizada pelo governo para as compras da safra dos agricultores familiares e para o cumprimento da exigibilidade da poupança rural. Razões do sucesso desse título são, primeiro, competência, eficiência e seriedade dos produtores brasileiros, que conquistaram mercados, semearam campos e cidades pelo interior, resgataram seus compromissos e sua credibilidade. Segundo, as características formais e legais, definidas com base em pesquisa junto a potenciais investidores e usuários, feita por equipe do governo, que resultou na criação, por lei, de um título cambial, simples na formalização, seguro, auto-regulável, endossável física ou eletronicamente. Terceiro, a abnegação, o desprendimento, o entusiasmo criativo de dirigentes, técnicos e empresários de variadas naturezas e entidades (produtores, cooperativas, traders, corretores, bolsas, bancos, seguradoras, etc.), que trouxeram sugestões de aprimoramento visando à construção da credibilidade do papel. A CPR consolidou-se no contexto de uma revolução positiva no setor rural nacional, em termos tecnológicos, gerenciais, mercadológicos e de política agrícola. Juntamente com o Pronaf, as linhas de investimento com taxas prefixadas e os saldos da balança comercial cada vez melhores são um dos marcos referenciais do sucesso do agronegócio brasileiro. De setembro/1994 a julho/2004, o BB operou com CPR no montante total de R$ 6,5 bilhões, envolvendo soja, café, bois, algodão, milho, arroz, cana, suínos, trigo e outros produtos. Na segunda-feira passada, o BB passou também a adquirir CPR. Até então, o banco vinha concedendo aval na cédula emitida pelo produtor, que ia buscar os recursos no mercado, a custos de 2,25% ao mês. Essa nova modalidade conjuga recursos livres e da exigibilidade da poupança rural, permitindo uma significativa redução nos custos, que agora ficam entre 1,5% e 1,7% ao mês. A BB-CPR também está servindo para os agricultores apoiarem a pavimentação de estradas vicinais no Mato Grosso, para compras de insumos e para a realização de vendas de produtos conjugadas com contratos futuros da BM&F. A expectativa é que, na safra em curso, o BB efetive negócios no valor total de R$ 4 bilhões, cerca de R$ 3 bilhões na nova modalidade de aquisição. Passados, portanto, dez anos da criação do título, podemos afirmar que os produtores brasileiros dispõem de um sólido e confiável instrumento para obter os recursos complementares necessários à continuidade de sua importante atividade de geração de renda, empregos e alimentos para o País.