Título: João Paulo quer apuração de denúncia
Autor: Paulo de Tarso Lyra e Gabriela Valente
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/10/2004, Política, p. A-9

A Câmara dos Deputados quer rapidez na investigação das denúncias de tentativa de extorsão que teria sido praticada pelo deputado André Luiz (PMDB-RJ). O presidente João Paulo Cunha (PT-SP) instala amanhã uma comissão de sindicância, composta pelo corregedor-geral da Câmara, Luiz Piauhylino (sem partido-PE) e mais quatro deputados, todos integrantes do Conselho de Ética da Casa. Eles terão 30 dias para apresentar um relatório à Mesa Diretora da Câmara.

André Luiz é acusado de pedir R$ 4 milhões para retirar o nome do bicheiro Carlinhos Cachoeira do relatório final da CPI realizada pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). "A denúncia é grave e nós vamos apurar. Se houver procedência, haverá punição, chegando, inclusive, à cassação de mandato", garantiu o presidente da Casa, João Paulo Cunha (PT-SP).

Além de Piauhylino, fazem parte da Comissão de Sindicância os deputados Mendes Thame (PSDB-SP), Iriny Lopes (PT-ES), Ricardo Izar (PTB-SP) e Severiano Alves (PDT-BA). Após a conclusão do relatório, o caso será encaminhado à Mesa Diretora da Câmara, a quem cabe decidir se o processo segue ou não para o Conselho de Ética da Casa.

Caso o pedido de cassação se confirme em todas as instâncias, o trâmite regimental encerra-se com a votação em plenário. Não é a primeira vez que um corregedor-geral da Câmara pede a criação de uma comissão de parlamentares para auxiliá-lo nas investigações. A novidade, no processo, é a presença de quatro integrantes do Conselho de Ética da Casa desde o início das investigações. "Nada mais coerente. Isso dará mais agilidade e transparência ao processo", justificou o corregedor da Câmara, deputado Luiz Piauhylino (sem partido-PE).

A primeira providência será notificar o deputado André Luiz, para que este apresente sua defesa à Comissão de Sindicância. Para o deputado Chico Alencar (PT-RJ), integrante do Conselho de Ética da Câmara, é fundamental que todos os personagens sejam ouvidos.

"Precisamos ter acesso às fitas. Queremos também ouvir o deputado Carlos Rodrigues (PL-RJ) e todos os que tiverem sido citados pelo André Luiz", disse Alencar.

Chico Alencar afirmou que não pretende fazer julgamentos precipitados. Mas lembrou que algumas CPIs realizadas na Alerj, que envolviam André Luiz - na época deputado estadual-, foram abortadas inexplicavelmente. "Outro fato estranho é que o relatório da CPI, que estava pronto há dois meses, será votado hoje, após o surgimento das denúncias. Por que esse texto não foi votado antes?", questionou Alencar.

O deputado André Luiz voltou a negar ontem sua ligação com o jogo do bicho. Afirmou que vai à tribuna da Câmara hoje para se defender e complementou que seu único erro foi receber o deputado Carlos Rodrigues (PL-RJ) em sua casa - Rodrigues é acusado de envolvimento com o ex-subchefe da Casa Civil, Waldomiro Diniz.

André Luiz insinuou que a pressa de João Paulo em concluir o processo seria uma resposta às denúncias feitas por ele de que o assessor de imprensa da Presidência da Câmara Luís Costa Pinto teria recebido R$ 30 mil da empresa Coca-Cola.

Também citado na reportagem da revista Veja, o senador Sérgio Cabral Filho (PMDB-RJ) divulgou nota "repudiando o uso de seu nome pelo deputado André Luiz". "Trata-se de um caso gravíssimo de extorsão, que deve ser apurado rigorosamente", defendeu.

Cabral rebateu as informações de que seria amigo do deputado fluminense. Garante que a única relação entre ambos é o fato de fazerem parte do mesmo partido. Cabral pedirá ao Conselho de Ética do PMDB que interpele André Luiz e acompanhe as investigações da Câmara.