Título: Genoino faz críticas às divergências internas
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/10/2004, Política, p. A-9

O presidente nacional do PT, José Genoino (SP), criticou ontem as divergências internas no governo pela execução do programa de transferência de renda federal Bolsa-Família. Genoino ponderou que apenas dessa forma o governo poderá corrigir eventuais erros circunstanciais dos programas sociais. "Temos que evitar as disputas internas para fazer a defesa global dos programas sociais do governo", afirmou.

O dirigente do PT se referiu as disputas ideológicas entre a secretária-executiva do Ministério de Desenvolvimento Social, Ana Fonseca, e o assessor especial da Presidência da República, Frei Betto, estariam comprometendo o programa Bolsa-Família, principal projeto social do governo.

Em meio as denúncias de inclusão irregular de pessoas, especialmente famílias ligadas a prefeitos e secretários, e uso eleitoral do programa de transferência de renda, Ana Fonseca defende a gestão e a fiscalização dos cadastros do Bolsa-Família pelas prefeituras em todo o país, enquanto Betto advoga um controle mais efetivo por meio de conselhos formados por representantes da sociedade civil. Com isso, seria evitada a distribuição indiscriminada de cartões magnéticos e a possibilidade de manipulação política para uso eleitoral do programa. No meio do tiroteio, está o ministro Patrus Ananias, que herdou a disputa do antecessor, o ministro de Segurança Alimentar, José Graziano.

Em entrevista publicada ontem no Portal do PT, Genoino disse ainda que a falta de controle dos programas sociais, em parte, é do governo federal, que precisa aprimorar os mecanismos de controle, mas os governos municipais e estaduais também têm muita responsabilidade. O presidente do PT acrescentou, contudo, que não se pode transformar as falhas pontuais e circunstanciais numa política de deslegitimação dos programas sociais do governo. Na avaliação de Genoino, há no País um setor conservador e elitista que, a qualquer falha de um programa social, busca deslegitimá-lo. "Este enfoque para desqualificar esses programas e deslegitimá-los é uma visão elitista e conservadora em relação ao tratamento que o Estado deve ter com a população mais pobre. Qualquer programa social que surge no Brasil, quando tem falha, vira escândalo, e essa mesma repercussão não é dada quando surgem falhas em programas do governo federal voltados para os seguimentos da elite", disse citando as falhas que existem nos financiamentos dos bancos públicos.

A pesquisadora Laura Tavares, professora da UFRJ, disse considerar o programa Bolsa-Família fundamental para as famílias carentes. Para ela, a eficiência do programa não estaria no aumento do controle. "O caráter abrangente dos programas sociais, que lhes confere atributos de política pública, é condição para a garantia dos direitos sociais que foram subtraídos a essa imensa parcela da população brasileira", defendeu.