Título: Fitch eleva nota do Brasil
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 05/04/2011, Economia, p. 15

O risco de investidores que aplicam os seus recursos no Brasil levarem calote ficou menor, na avaliação da agência de classificação Fitch Ratings. A instituição elevou ontem a nota atribuída ao país, alterando o indicador de probabilidade de inadimplência (IDR, na sigla em inglês) em moeda estrangeira de BBB- para BBB. A mudança deve atrair mais capital estrangeiro para o país e pode aumentar a enxurrada de dólares que desembarcam no mercado. Apesar de ter sido considerada positiva pela governo, a decisão deve agravar o derretimento do dólar em relação ao real.

A elevação do rating refletiu, segundo comunicado da instituição, a percepção de que a taxa de crescimento potencial ¿ capacidade de expansão da economia sem gerar inflação ¿ aumentou para uma faixa entre 4% e 5% ao ano. O ajuste ¿melhora a perspectiva fiscal a médio prazo (¿), aumentando a capacidade do país de absorver choques¿, expressa nota divulgada pela Fitch. A alteração anunciada ontem também está relacionada a uma transição ¿suave¿ entre os governos de Lula e Dilma Rousseff e à promessa de contenção de gastos feita pela atual presidente da República, segundo a Fitch.

A última vez em que a instituição elevou o rating brasileiro foi em maio de 2008, quando o país foi considerado ¿grau de investimento¿. O ajuste surpreendeu parte dos analistas, que não esperavam mudança nos ratings do país. ¿O mercado não trabalhava muito com essa hipótese. Mas essas elevações, a partir de agora, tendem a ter um impacto cada vez menor¿, afirmou o estrategista-chefe do banco WestLB, Roberto Padovani.

Mesmo considerando a decisão positiva, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reconheceu que a elevação de nota gera problemas para o balanço das contas externas. ¿Quanto mais sólida a economia fica, mais tende a atrair investimentos externos e dólares, o que nesse momento é um certo problema. Mas é melhor ter esse excesso de dólares do que ter o problema que tínhamos no passado, de falta de dólares¿, afirmou. A moeda norte-americana encerrou o dia ontem com queda de 0,19%, cotada a R$ 1,609 para venda, menor valor desde agosto de 2008, antes do agravamento da crise financeira mundial.

Medidas O ministro Mantega prometeu que o governo vai continuar tomando medidas para conter a entrada da divisa norte-americana. Parte do esforço foi feito imediatamente pelo Banco Central. Ontem, a instituição anunciou um ajuste nas regras de contratação de empréstimos estrangeiros. Na semana passada, a autoridade monetária elevou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 5,38% para 6% em contratos de até 360 dias. Ontem, a medida foi ampliada para as renovações dos acordos vigentes. A decisão foi tomada para evitar que as empresas renovem seus compromissos somente para burlar o IOF e deve atingir o equivalente a US$ 5,6 bilhões. O BC também considerou a decisão da Fitch como um reconhecimento da consistência da política econômica nos últimos anos. Para a instituição, ¿esses bons fundamentos da economia brasileira proporcionam melhores condições para o crescimento sustentável e concorrem para a contínua queda no custo de financiamento do investimento que o país demanda e continuará a demandar nos próximos anos¿.