Título: Brasileiros protestam contra ação
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Fonte: Gazeta Mercantil, 25/07/2005, Internacional, p. A8

Brasileiros promoveram manifestações em três locais da capital britânica ontem, para protestar contra o erro da Scotland Yard que provocou a morte de Jean Charles de Menezes. Debaixo de chuva, os manifestantes ostentavam bandeiras do Brasil e cartazes nos quais se lia ''Cinco balas em nossos corações'' e ''Desculpas não são suficientes''. Entre eles, estavam amigos e parentes do eletricista.

Cerca de 40 pessoas se concentraram em frente ao Parlamento da Grã-Bretanha. Apesar do número pequeno, os manifestantes chegaram a bloquear o trânsito no local. Depois, o grupo caminhou para a frente da Scotland Yard, onde cantaram músicas e o hino nacional brasileiro na frente dos policiais, visivelmente constrangidos. Embora no local seja proibida a realização de manifestações, não houve repressão. Outros manifestantes se reuniram nos arredores da estação de Stockwell, onde Menezes foi morto. Várias flores e mensagens de apoio foram depositadas na estação.

Foi durante o protesto que amigos lembraram histórias do mineiro que sonhava em voltar para o Brasil dentro de dois anos. Jane Charles também manifestou a amigos, depois dos ataques terroristas de 7 de julho, a vontade de comprar uma moto para evitar os ônibus e o metrô de Londres.

Entre os protestantes, estava Gésio César D'avila, amigo do eletricista.

- Estávamos juntos na quinta-feira, e quando vimos que tinha ocorrido um novo ataque o Jean disse que iria comprar uma moto

Alex Alves, o primo de Jean Charles que reconheceu seu corpo no sábado, também participou. Alex fez duras críticas à ação da polícia, que ele pensa em processar.

- Os policiais demonstraram que são incapazes e estúpidos. Não há explicação para o que ocorreu - afirmou Pereira, emocionado.

De acordo com Alex, seu primo Jean era ''100% um bom sujeito, que nunca fez nada de mau e que não tinha motivo para fugir da polícia''.

- Eles tinham de matar alguém para mostrar a toda a população que eles estão trabalhando e deixando o país seguro - acrescentou à BBC.

Outros amigos do mineiro morto em Stockwell também se mostraram indignados com as suspeitas infundadas da Scotland Yard.

- Jean era uma pessoa tranqüila, que costumava ir para o trabalho, tomar um drinque no final do dia e depois ir para casa relaxar - contou à Reuters Fausto Soares, de 26 anos, um amigo de Jean Charles.

Segundo Fausto, funcionário da Royal Horticultural Society de Londres, o amigo era eletricista autônomo que trabalhava em construções:

- Jean Charles estava legalmente na Grã-Bretanha há cerca de 3 anos, não gostava de confusão e era um trabalhador dedicado.

Ainda de acordo com Fausto, Jean Charles tinha recentemente passado oito meses em sua cidade natal, Gonzaga, para ficar com o pai, Matuzinho Otoni Oliveira, que passava por um tratamento contra câncer. O eletricista teria custeado o tratamento, já que seus pais são fazendeiros humildes do povoado de Córrego dos Ratos, distante 30 minutos do centro de Gonzaga. Sua mãe, Maria Otoni Menezes, também sofre de problemas de saúde e ficou muito abalada com a notícia. Ainda está em choque.

No dia do incidente, Jean ligou para Gésio para avisar que chegaria atrasado. Depois, o amigo tentou retornar a ligação para o celular do eletricista, mas não foi atendido. Mais tarde no mesmo dia, o empreiteiro recebeu uma ligação da polícia. Segundo ele, os policiais inicialmente disseram que Jean estaria envolvido com o terrorismo.

- Eu disse que isso era impossível - contou Gésio.

A preocupação dos amigos e parentes, agora, é de acelerar o traslado do corpo para o Brasil. O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, divulgou ontem nota oferecendo ajuda para o pagamento do traslado.