Título: Lula eleva verba para merenda escolar
Autor: Romoaldo de Souza
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/10/2004, Nacional, p. A-6

Presidente reconhece que o governo tem dificuldade para controlar seus programas sociais. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ontem mais harmonia e mais entrosamento entre as políticas sociais de governo e afirmou que concedeu reajuste de 15%, ao valor per capita da merenda escolar por não entender "como alguém consegue comer com R$ 0,15". Ao comentar notícias sobre denúncias contra o programa Bolsa-Família, o presidente disse que considera importante "esse tipo de matéria", afirmando que os políticos gostariam mesmo é "que as manchetes dos jornais fossem favoráveis", entretanto reconheceu que o governo não tem condições de ter total controle dos programas sociais que desenvolve.

"De vez em quando as pessoas falam, `ah, mais o cadastro do bolsa-família, não faz isso, não faz aquilo¿. Até no supermercado importante como o Pão de Açúcar ele trabalha com a possibilidade de 1% de roubo. Você imagina num programa que você tem 5 milhões de cartões pode ter desvio, sim", defendeu. Para o presidente, é preciso que o governo tenha "consciência e certeza" de que está fazendo o melhor que pode ser feito e à medida que esses erros forem detectados, serão corrigidos.

"Todo mundo sabe toda vez que a gente começa uma política nova há sempre uma dúvida, uma desconfiança se vai dar certo ou não e nós tínhamos consciência de que se fosse fácil alguém já teria feito", ressaltou. Para Lula, programas sociais da dimensão do Bolsa-Família somente terão controle eficaz quando o governo conseguir trabalhar em conjunto com as prefeituras e com a sociedade civil organizada. "Os prefeitos sozinhos não dão conta de um programa dessa magnitude. E nós, não podemos prescindir do controle social das políticas públicas que o governo tem que ter", disse o presidente.

Nos 21 meses de conselho, Lula disse que uma das medidas mais importantes que tomou, foi reajustar em 15% o valor da merenda escolar, por aluno, a partir de setembro deste ano e, a partir do ano que vem, esse reajuste será de mais 20% para que o benefício "possa recuperar o poder de compra", gradativamente. "Porque eu confesso que não consigo entender como é que alguém consegue comer com R$ 0,15, mas de qualquer forma esse é um milagre da multiplicação", salientou.

O presidente prometeu que vai cumprir com o compromisso que chegar no fim do mandato, em 2006, "se Deus quiser", com 11 milhões de famílias inscritas no programa Bolsa-família. Ele lembrou que durante o seu governo 6 milhões de famílias já foram cadastradas, mesmo com o governo tendo, "apenas" 22 meses. "Para os adversários é um tempão, mas para nós é um tempinho", brincou.

Lula se emocionou com um poema escrito pela mãe-de-santo Juvani Nery Viana, do terreiro Terra da Aruanda de Xangô. Os versos que deixaram Lula de olhos marejados foram lidos pela conselheira Ana Placidino, no trecho que afirma: "Grito para lá, grito para cá. Saldando o Pai Ogum ao Pai Oxóssi, ao Pai Xangô, as Iabas ao Pai Oxalá e a todas as nações de nagô. Só agora Deus nos enviou o presidente Lula nosso defensor". Na reunião do Consea, Lula foi condecorado com a medalha de ouro da Aliança Internacional Contra a Fome no Brasil e no mundo. A medalha é uma iniciativa da FAO, organização da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Alimentação e a Agricultura.