Título: Gasparini vence debate inovador
Autor: Edson Álvares da Costa
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/10/2004, Política, p. A10

Ribeirão Preto foi palco, na última segunda-feira à noite, de um debate inédito na televisão brasileira, entre os candidatos a prefeito Welson Gasparini (PSDB) e Baleia Rossi (PMDB). Transmitido pelo canal fechado Thathi e mediado pelo jornalista Jorge Kajuru, o debate foi realizado ao estilo norte-americano. Ou seja, teve a participação de uma mesa de notáveis para julgar o desempenho dos candidatos e, com a devida autorização da Justiça Eleitoral, realizou-se uma enquete ao final do programa, via telefone e e-mail, que indicou o vencedor do debate.

Na opinião da mesa julgadora, o desempenho dos candidatos foi fraco e até decepcionante. Pudera. Os notáveis, que acompanharam o debate ao vivo, dos estúdios da TV Alphaville em São Paulo, eram o jornalista Alberto Dines, diretor do programa Observatório da Imprensa, o economista Luiz Gonzaga Belluzo, Bob Fernandes, diretor de redação da revista Carta Capital, e pelo cientista político Carlos Novaes, presidente do Instituto de Pesquisa DataNexus.

Na enquete por telefone, foram registradas 25 mil ligações entre meia-noite e uma da manhã de terça-feira, um resultado surpreendente se considerado o horário do programa e o fato dele ser transmitido em canal fechado. Deu Gasparini, com 54,86% das ligações, contra 45,14% de Baleia Rossi. Pela internet, a vantagem do tucano foi maior: 71,8% contra 45,14% do peemedebista. De acordo com a última pesquisa do Ibope, Gasparini tem 58% das intenções de voto e Baleia Rossi, 23%. "O debate foi muito partidário, para minha surpresa e para minha decepção", disse Alberto Dines. Segundo ele, a discussão em Ribeirão Preto assemelha-se à de São Paulo, onde há um confronto raivoso, que foge à temática que vai discutir a vida das pessoas. "Lamento que uma cidade moderna como Ribeirão Preto não discuta temas como trânsito, meio ambiente e segurança".

Na verdade, os temas a que se referiu Dines foram abordados durante o horário eleitoral e em outros debates, como o próprio Kajuru esclareceu. Para Carlos Novaes, a falta do debate temático, assim como as posturas agressiva de Baleia e defensiva de Gasparini, refletem a posição dos candidatos nas pesquisas - o tucano tem o dobro de apoio nas pesquisas de intenção de voto do peemedebista.

Novaes considerou o formato do debate muito auspicioso para que os candidatos se aproximassem. "Mas ambos ficaram devendo ao eleitor", disse. "Usaram uma matemática muito imprecisa e a tática eleitoreira de não discutir o passado recente, o que prejudicou o debate".

Neste ponto, segundo o cientista político, a exceção foi Gasparini, que afirmou que o déficit da prefeitura deverá passar dos R$ 90 milhões no final do ano. Contudo, o candidato tucano não explicou as razões do rombo nos cofres do município. Também não houve referência ao déficit de R$ 57,7 milhões, equivalente a 17% do orçamento, registrado em 2002, ano em que Antônio Palocci Filho trocou a prefeitura local pelo Ministério da Fazenda.

O economista Belluzo disse que faltou aos candidatos contextualizar a discussão econômica, ou seja, vincular as dificuldades financeiras do município com a situação do País e do mundo. Ele também considerou que Gasparini se perdeu quando quis justificar a não-assinatura de um compromisso de não contratar parentes de até terceiro grau para cargos na prefeitura. "Revela um vício da políticfa brasileira", afirmou.

Bob Fernandes, por sua vez, criticou a demonização dos usineiros feita por Baleia Rossi, na cidade que é pólo da região conhecida por liderar a produção mundial de açúcar e álcool. "Fez ideologia, buscando os votos do PT", disse o jornalista, acrescentando não entender a razão de tal demonização.

Quem acompanha a política local mais de perto, sabe que Baleia Rossi critica os usineiros que supostamente barram a entrada de novas indústrias na cidade, para não inflar a mão-de-obra.

kicker: Na opinião da mesa julgadora, o desempenho dos candidatos foi fraco e até decepcionante