Título: Caos na votação é uma possibilidade
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Fonte: Gazeta Mercantil, 27/10/2004, Internacional, p. A11

Filas, urnas eletrônicas quebradas, máquinas de votar antiquadas e brigas judiciais podem transformar a eleição presidencial dos Estados Unidos, na terça-feira, numa grande confusão e até num caos, disseram ontem analistas. Os problemas podem surgir durante a votação ou na apuração, em especial se a disputa for tão apertada quanto sugerem as pesquisas. "Em todo estado em que a disputa for acirrada, os partidos inspecionarão de perto cada seção eleitoral e cada voto, e o sistema não suportará isso", disse o cientista político Allan Lichtman, da American University. "Haverá fraudes, intimidação de eleitores, muita tensão e acusações mútuas."

O presidente republicano George W. Bush mantém uma vantagem de três pontos sobre seu adversário democrata, John Kerry, segundo a pesquisa Reuters/Zogby divulgada ontem. Bush tem 49% das preferências, contra 46% de Kerry. No dia anterior, tinha 48%, contra 45% do senador de Massachusetts. Com o final da campanha, a sondagem, divulgada diariamente, acrescentou pela primeira vez eleitores inclinados a votar em um dos dois. Com isso, sobrariam apenas 3% de prováveis eleitores indecisos - o voto nos EUA é facultativo. "Se Kerry, como dizem, está buscando os indecisos, é melhor considerar de novo, porque podem não ter sobrado muitos", afirmou o especialista em pesquisas John Zogby.

Kerry ainda tem grande vantagem entre importantes grupos do seu partido, como os afro-americanos ou os sindicalistas, mas perde agora entre as mulheres, jovens e idosos. A pesquisa com 1.206 prováveis eleitores foi feita de sábado a segunda-feira e tem uma margem de erro de 2,9 pontos percentuais para baixo ou para cima. Em uma série de pesquisas Reuters/Zogby feitas em 10 Estados indefinidos, Bush apareceu na frente em seis e Kerry em quatro. Os votos de Ohio, Flórida e Pensilvânia poderão ser decisivos para a vaga na Casa Branca.

A confusão pode começar já na terça-feira, com o enorme comparecimento nas urnas. Curtis Gans, do Comitê para o Estudo do Eleitorado Americano, prevê que votarão de 118 milhões a 121 milhões de eleitores (entre 58% e 60% do total). Em 2000, votaram 106 milhões, ou 54%. "Os locais de votação não estão preparados, e haverá longas filas. As autoridades eleitorais manterão as urnas funcionando até que todos votem. Se tentarem encerrar a eleição, serão levados ao tribunal", disse.

Alguns americanos que moram no exterior e não conseguiram se cadastrar para votar a distância, ou não confiam no sistema para ausentes, estão voando para casa para participar do pleito. Cerca de seis milhões de expatriados têm direito de participar da eleição, mas um complicado conjunto de regras, diferentes para cada um dos 50 estados do país, os atrasos na chegada das cédulas dos ausentes e a preocupação com a segurança dos votos no correio fizeram muitos preferirem viajar.