Título: Teste em altas temperaturas
Autor: Virgínia Silveira
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/10/2004, Telecomunicações & Informática, p. A14
O Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) está desenvolvendo uma câmara de plasma para testar os materiais usados na fabricação do escudo térmico que protegerá a estrutura do satélite Sara. O objetivo do projeto é produzir jatos de plasma com alta temperatura, para simular as condições severas do ambiente da reentrada atmosférica, quando o satélite será submetido a temperaturas superiores a 2.600ºC. No chamado "corredor de reentrada" o veículo chega à velocidade de 27.360 km/hora a uma altitude de 120 km.
"É nessa fase que a maior parte da energia cinética do veículo deverá ser dissipada pela frenagem na atmosfera, gerando fluxos térmicos da ordem de 2,2 milhões de Watts/m2", explica o professor Homero Santiago Maciel, coordenador do projeto.
No caso de um veículo recuperável como o Sara, segundo Maciel, os materiais usados nos sistemas de proteção térmica devem suportar as condições de alta temperatura e fluxo de calor na reentrada, evitando danos à sua estrutura e superaquecimento interno do veículo.
Segundo o pesquisador Paulo Moraes, do IAE, os dois primeiros protótipos do Sara deverão usar materiais ablativos que se decompõem sob a ação de altas temperaturas. Na versão orbital, o Sara utilizará matrizes cerâmicas, que não sofrem desgaste sob altas temperaturas, podendo ser utilizados mais vezes.
A fonte de plasma produzida na câmara equivalerá a um túnel de plasma, sendo capaz de fazer a qualificação mínima dos materiais do escudo de proteção térmica do Sara. O plasma será produzido por descarga elétrica.
O projeto, de acordo com o professor Maciel, também contribuirá para a formação de uma equipe multidisciplinar no ITA, nas áreas de plasmas, técnicas de vácuo, materiais e aerodinâmica. O foco das pesquisas nessa área será a utilização do túnel de plasma para ensaios de materiais e realização de diagnósticos para validação de modelos relativos ao fenômeno de reentrada de veículos espaciais.
O projeto da câmara de plasma é apoiado pela Agência Espacial Brasileira (AEB), dentro do programa Uniespaço, que destinou R$ 100 mil de recursos para o seu desenvolvimento.
No longo prazo, segundo Maciel, o ITA pensa em desenvolver um projeto de maior porte nessa área, com a implantação de um Laboratório de Túnel de Plasma (LTP). O investimento no projeto está estimado em mais de US$ 1 milhão.