Título: As novas tecnologias que perturbam as operadoras
Autor: Thais Costa
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/10/2004, Telecomunicações & Informática, p. A14

Convergência fixo-móvel, banda larga e VoIP movimentam o mercado. Há três assuntos concentrando a atenção das operadoras telefônicas e da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel): a convergência fixo-móvel, a banda larga e a voz sobre IP (VoIP), afirmou Fernando Xavier Ferreira, presidente do grupo Telefônica, em painel apresentado na FutureCom, congresso realizado em Florianópolis. O executivo avalia este momento como um ponto de inflexão no qual há muito a ser definido. "Temos de mudar o foco para os serviços que a tecnologia está propiciando. Isto não seria mudar as regras, e sim solucionar questões pontuais", afirmou.

Os serviços fixo e celular não têm mais uma clara distinção, principalmente em relação à penetração, abrangência e utilização. E o debate sobre a separação e integração dos serviços e suas regras estará com certeza entre os principais temas dos próximos anos nos principais mercados mundiais, previu o executivo.

"Temos de entender que o aparato da regulamentação deve ser tratado de forma dinâmica", disse Ferreira, citando como exemplos os órgãos norte-americano (FCC) e europeu (Oftel).

Ferreira comparou as mudanças que estamos vivendo no setor de telecomunicações com o fim da máquina de escrever. "A evolução do aparato regulatório é como oxigênio no mercado", ponderou, e ela surge em meio à falta de consenso entre operadores. Há os que defendem a possibilidade de oferecer produtos integrados e aqueles que acreditam que a fusão traz sérios riscos aos operadores.

Um dos riscos é a integração das empresas ser transformada em subsídio entre as operadoras fixas e móveis. "As questões são recentes e ainda estão no timing de serem tratadas", afirmou Ferreira, alegando que não existe tom de crítica. "Que se faça a discussão, que se defina o rumo; depois iremos nesse rumo", afirmou.

Banda larga

A banda larga ocupa igualmente um lugar prioritário na atenção dos operadores, que vão poder oferecer voz, vídeo e internet. Ocorre que o aparato regulamentar é diverso para as várias empresas, mas elas chegarão à condição de oferecer serviços idênticos. "Seria natural que estivessem sob as mesmas regras", disse Ferreira. Ele alertou para os riscos de sobrevivência das empresas que investiram elevadas somas em sua infra-estrutura.

O Brasil vive um momento de grande mudança em relação à banda larga. A penetração de computadores nos lares é baixa (16,6%) em relação a países mais desenvolvidos, como Espanha (47,3%) e Estados Unidos (77%). Também é baixo o índice de banda larga (15,3%) nos domicílios que têm acesso à internet.

O pior cenário é o geral, o da penetração de banda larga nos lares (2,1%). No Canadá é de 28,3% e nos Estados Unidos, de 20,4%. Segundo levantamento da UIT citado pelo presidente da Telefônica, o porcentual de assinantes de banda larga é de apenas 0,6%.

Novo desafio

A nova tecnologia de Voz sobre IP (VoIP) representa um terceiro grande desafio para as operadoras e reguladores, pois permite que toda a rede seja percorrida sem a remuneração convencional. "Nada se sustenta se não houver remuneração adequada para que a nova safra de serviços mantenha as empresas vivas", afirmou o presidente da Telefônica.

O fato de as tecnologias substituírem as tarifas por tempo para pacotes de tarifas planas facilita a vida das empresas entrantes, mas cria fatores de insustentabilidade para as operadoras que investiram em infra-estrutura.

kicker: Os serviços fixo e celular não têm mais uma clara distinção em penetração e abrangência