Título: Fundos querem salvar Brasil Ferrovias
Autor: Janaína Leite
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/10/2004, Transporte & Logiísticas, p. A15
Previ, do Banco do Brasil, e Funcef, da Caixa, reúnem-se hoje no Rio para decidir investimento. Os fundos de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (Previ) e da Caixa Econômica Federal (Funcef) firmam hoje, em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o protocolo do acordo que pretende revitalizar a Brasil Ferrovias. O documento é o primeiro passo para a liberação de recursos públicos à concessionária, hoje operando no vermelho. A partir da assinatura, começam a ser discutidos os detalhes de um aporte em torno de R$ 600 milhões, bem como a recomposição acionária e a reestruturação da empresa - o que passa pela troca de comando, já em análise pelos acionistas e pelo governo. Além de definir o tamanho de sua fatia na empresa ferroviária, os fundos colocarão mais uma vez na mesa de negociações suas propostas para capitalizar a Brasil Ferrovias. A tendência é a de aportes proporcionais ao atual modelo, que garante a primazia à Previ, sócia majoritária, com 26,65% das ações. Em seguida, vem a Funcef (22,31%) e um conjunto de sócios privados. A pretensão inicial dos minoritários era aproveitar a boa vontade do BNDES para colocar um preço em seus papéis bom o bastante para compensar a saída da companhia.
Perfil desejável
Conforme adiantou este jornal na semana passada, a Previ tomou a frente das negociações com o BNDES. Sem alarde, para não entortar as relações com a Funcef uma polegada a mais do que o necessário, representantes dos previdenciários do Banco do Brasil iniciaram uma série de conversas com pessoas com o perfil exigido pelo Palácio do Planalto para administrar a Brasil Ferrovias. Na lista das exigências, duas têm peso maior: afinidade com os petistas e conhecimento do setor.
O cuidado é justificado. A Brasil Ferrovias é tida nas rodas palacianas - ao lado do Gasene, gasoduto que levará gás do Sudeste ao Nordeste - como um dos investimentos com maior potencial de retorno, mas a empresa convive hoje com uma dívida de R$ 1,6 bilhão. A Brasil Ferrovias é vital para escoar a produção de grãos da região Centro-Oeste, onde está concentrada a colheita de soja brasileira. O produto, responsável por boa parte dos excelentes resultados no agronegócio, sai do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás rumo ao porto de Santos, local de embarque para o exterior. A Previ, no entanto, optou por continuar na sombra. O presidente da entidade, Sérgio Rosa, passou instruções precisas ao diretor de Participações do fundo, Renato Chaves, sobre os termos do protocolo. Hoje, durante a assinatura, Chaves estará imbuído de autoridade para falar pelo chefe diante do presidente da Funcef, Guilherme Lacerda - cujo empenho pessoal é responsável por acelerar o socorro do governo.
Política de boa vizinhança
Nada indica, aliás, que Lacerda esteja disposto a uma colisão com a Previ. Presidente do Conselho Administrativo da Brasil Ferrovias, será ele o maquinista da reunião mensal do grupo, marcada para hoje. A conversa costuma acontecer em São Paulo. Nesta quarta-feira, porém, para firmar a política de boa vizinhança entre os fundos, ocorrerá na sede da Previ, localizada no Rio de Janeiro.