Título: Trabalho não se confunde com paixão, diz Meirelles
Autor: Simone Cavalcanti
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/10/2004, Finanças & mercado, p. B1
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, partiu ontem em defesa dos diretores do BC, afirmando que eles têm capacidade para manter a serenidade e o foco no resultado, mesmo sob uma "tempestade de críticas passionais". Na opinião de Meirelles, é uma obviedade dizer que trabalho e paixão são muitas vezes incompatíveis.
"Trabalho gera resultados. Paixão, tão importante como motivação do trabalho e de cumprimento do dever, em outros momentos gera desejo. Infelizmente, uma distância bastante grande separa os resultados dos desejos", disse, complementando que a distância não é meramente uma distância de qualidade do resultado, mas uma distância temporal.
O presidente do BC, que discursou ao empossar o novo diretor de Política Monetária, Rodrigo Telles da Rocha Azevedo, disse encarar como absolutamente normal a cobrança da sociedade. "Seria um fenômeno não desejável se a autoridade pública, não só o BC, mas toda autoridade, não estivesse sujeita à cobrança, que é legítima", afirmou. "Mas compete a cada um, na sua função específica, avaliar como melhor atender à cobrança não só dos líderes mas da população brasileira".
Apesar disso, Meirelles saiu pela tangente quando perguntado sobre as críticas ao governo feitas pela economista (e petista) Maria da Conceição Tavares. "Não li", respondeu simplesmente.
Meirelles defendeu o "foco no futuro", ou seja, tomar decisões que produzirão resultados não só nos próximos dias ou meses, mas nos próximos anos. Segundo ele, o importante é que o BC "não se deixe levar apenas pelo desejo" para seguir com ações que levarão a resultados concretos.
Meirelles negou que tivesse pedido demissão na semana passada, como se especulou no mercado financeiro. Rebatendo insinuações de subordinação das decisões do Copom à cúpula do governo, Meirelles expressou, uma vez mais, que "não há dúvida de que o Copom age de uma forma autônoma. Esperamos que todos os membros do Copom ajam segundo o seu melhor julgamento dentro do objetivo do BC".