Título: Taxas de juros voltam a subir; "spread" fica estável
Autor: Simone Cavalcanti
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/10/2004, Finanças & Mercados, p. B1
Empréstimos com recursos livres crescem 17,4% no acumulado do ano. A expansão do crédito continuou sua marcha no mês de setembro, bastante influenciada pelos empréstimos com desconto em folha de pagamento (no caso das linhas para pessoa física), que são mais baratos. O volume total chegou a R$ 460,3 bilhões, um crescimento de 1,4% em relação a agosto e de 12,3% no acumulado do ano. As taxas médias de juros, já refletindo a alta da Selic, subiram, mas os "spreads" permaneceram praticamente estáveis.
As operações totais de crédito com recursos livres (onde se encaixam o crédito pessoal e, portanto, o crédito consignado em folha) foram as que mais cresceram, pelo nono mês consecutivo. Alcançaram o saldo de R$ 263,2 bilhões em setembro, um avanço de 1,9% em relação a agosto e de 17,4% no acumulado de 2004; em 12 meses, o aumento foi de 21,9%.
No mês de análise, do total das operações, R$ 106,6 bilhões referem-se ao crédito para pessoas físicas, com crescimento de 2,4% em relação a agosto e de 21% no ano. Os financiamentos para as pessoas jurídicas, exceto os créditos em moeda estrangeira, somaram R$ 104,3 bilhões, um aumento de 4,1% no mês e de 18,3% no ano. Os empréstimos em moeda estrangeira para pessoas jurídicas apresentaram redução de 3,3%, caindo para R$ 52,4 bilhões. Mesmo assim, no ano, ainda há expansão de 9,2%. De acordo com o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, a queda no volume de crédito referenciado em moeda estrangeira aconteceu devido à apreciação cambial de 2,56% no mês e à liquidação de dívidas externas.
As operações de crédito com recursos direcionados (que, ao lado do crédito com recursos livres, compõe o saldo total) somaram R$ 165,9 bilhões em setembro, um aumento de 0,9% em relação a agosto e de 2,6% no acumulado do ano. Os repasses do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) somaram R$ 91,4 bilhões, um acréscimo de 0,4%. Deste total, os financiamentos diretos subiram de R$ 44,4 bilhões para R$ 45,0 bilhões. Já os repasses via linha de financiamento (Finame) recuaram 0,6%, caindo para R$ 46,3 bilhões.
A parte dos bancos
O "spread" geral médio das operações de crédito manteve-se praticamente estável: ficou em 27,7 pontos percentuais (27,5 em agosto). Assim, permaneceu em 45,7 pontos para as pessoas físicas e em 13,1 para as jurídicas.
A taxa geral de juros cobrada nos empréstimos aplicação subiu 1,2 ponto percentual, atingindo 45,1% ao ano em setembro, sendo que para pessoa física ficou em 63,2% ao ano e para a pessoa jurídica 30,4% ao ano.
Após três meses de estabilidade em 7,2%, a taxa de inadimplência subiu em setembro para 7,5%. Mesmo assim ainda continua sendo uma das mais baixas dos últimos dois anos. Em setembro do ano passado, a taxa era de 8,8%.
Consignação
O volume de crédito dentro da modalidade de consignação em folha de pagamento chegou a R$ 10,1 bilhões em setembro, um aumento de 5,8% em relação a agosto (R$ 9,6 bilhões). Em janeiro deste ano, o montante destinado a esses financiamentos era de R$ 6,319 bilhões. Isto significa que a expansão nessa modalidade chega a 60% no acumulado do ano. De acordo com Altamir Lopes, do BC, 15 bancos são responsáveis por 78,6% deste total de recursos a uma taxa média de 39,1% ao ano.
Na análise de Lopes, as pessoas estão migrando porque é uma modalidade mais "barata". Na comparação com o crédito pessoal (73,9% ao ano), em setembro as taxas de juros do crédito consignado representavam quase a metade (39,1%). No início deste ano, enquanto o crédito pessoal cobrava 79% ao ano, a nova modalidade oferecia linha com juros a 42%.