Título: O renascimento dos estaleiros
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Fonte: Gazeta Mercantil, 27/10/2004, Relatório - Petróleo e Gás, p. 1

Depois de uma década de baixa atividade a indústria naval reage. A reboque do vigoroso crescimento da atividade de exploração e produção do petróleo no País, a indústria naval brasileira inicia a recuperação depois de mais de uma década de esquecimento. Por trás da revitalização do setor está a Petrobras, a maior cliente dos serviços dos estaleiros nacionais, com encomendas que vão de navios de suporte offshore à construção e montagem de plataformas.

De acordo com o Sindicato da Indústria Naval (Sinaval), existem hoje no país 17 estaleiros operando com algum tipo de obra para a Petrobras, empregando cerca de 22 mil pessoas. "Em 1999, eram apenas quinhentos funcionários", lembra o presidente da entidade, Hariovaldo Rocha.

O empresário conta que o primeiro incentivo ao setor foi dado em 2000, quando a empresa lançou edital para a contratação de 22 navios de apoio offshore. "Naquele momento houve a primeira recuperação. Diversos estaleiros foram reabertos", conta ele.

A grande expectativa da indústria nacional hoje, segundo Rocha, está depositada em encomendas que serão feitas pela Transpetro, subsidiária da área de transportes da Petrobras, que licitará 22 petroleiros. O edital, que deve ser lançado até o final deste mês, contempla apenas estaleiros que tenham instalações no Brasil.

Além dessa encomenda, o mercado aguarda o lançamento de outro edital, dessa vez da própria Petrobras, que licitará 23 embarcações de apoio às plataformas. A estimativa do Sinaval é de que, até 2007, a estatal e sua subsidiária demandem pedidos da ordem de US$ 5 bilhões por ano.

"Com os novos pedidos, podemos ultrapassar 30 mil empregados no setor. O entrave à construção naval brasileira continua sendo a exigências de garantias para financiamentos", afirma Rocha.

Dos 17 estaleiros que operam com construção naval no Brasil, 13 ficam no estado do Rio de Janeiro, dois no Ceará, um em Santa Catarina e outro no Amazonas. No Rio, a revitalização dos estaleiros absorveu nos últimos cinco anos investimentos da ordem de US$ 100 milhões. A principal vitória da indústria naval fluminense foi a construção do casco da plataforma P-51, nas instalações da Nuclep, órgão federal que tinha por objetivo fabricar componentes pesados para usinas nucleoelétricas.

Sem pedidos para o setor nuclear, as operações da Nuclep estavam praticamente paradas. Graças a incentivos dados pelo governo estadual, a Petrobras optou por construir no País, pela primeira vez, um casco de plataforma. Apenas o projeto da P-51 está orçado em cerca de US$ 800 milhões.

Depois de fabricados, os cascos da plataforma seguirão para o estaleiro Brasfells, em Angra dos Reis. Também estão a cargo do Brasfells a montagem da P-48 e da P-52. "Há alguns anos, esse estaleiro tinha menos de dez empregados, que praticamente só vigiavam as instalações. Hoje são cerca de sete mil", comenta Wagner Victer, secretário estadual de Energia, da Indústria Naval e do Petróleo .

Ainda no rol de estaleiros contratados para a montagem de plataformas estão o Mauá-Jurong (P-43 e P-54), em Niterói, e Ultratec (P-47), na região portuária do Rio. Já entre os que se especializaram em embarcações de apoio offshore, estão o Promar e Eisa, ambos já operando como exportadores.

"Em cinco anos, as encomendas dos estaleiros nacionais passaram de US$ 500 milhões anuais, para US$ 3,5 bilhões. Um salto mais do que expressivo", diz Victer.