Título: Investimentos em baixa
Autor: Miguel Ignatios
Fonte: Gazeta Mercantil, 28/10/2004, Opinião, p. A-3

País caiu de 9°- para 17°- na preferência do capital externo. Como qualquer convalescente, a economia brasileira entrou naquele período que exige mudança de dieta para permitir ao paciente andar com as próprias pernas. No estágio em que se encontra, significa atrair investimentos de forma que mantenha a atual "bolha" de crescimento e, se possível, a torne sustentável ao longo dos próximos dois anos.

A possibilidade de fechar o ano com aumento de 3,5% no PIB ou mais, inflação sob controle e superávit de US$ 30 bilhões na balança comercial demonstra que a economia brasileira, sem dúvida, está bem mais robusta do que em 2003. Isso, contudo, não impediu que o País caísse de 9 para 17 na relação da preferência do capital estrangeiro.

Se o Brasil não foi prioridade para estrangeiros, também esteve longe da atrair investidores nacionais. Estes, de acordo com dados divulgados pelo Banco Central, mantêm aplicados oficialmente em contas de poupança, no exterior, cerca de US$ 82 bilhões. São recursos que renderiam muito mais aqui do que lá fora. O que, então, impede que essas aplicações retornem sob a forma de investimentos produtivos, já que a condução da economia brasileira conseguiu estabilizar o nível de credibilidade do País interna e externamente?

A pergunta tem várias respostas. Mas já há mapeados alguns dos fatores que inibem a entrada dessa poupança interna aplicada no exterior, além de afastar novos investimentos de empresas estrangeiras.

Esses fatores acabam de ser apontados pelo Banco Mundial (Bird). Anualmente, o Bird divulga relatório que teve como tema, este ano, clima para investimentos em diversos países da América Latina.

No relatório, realizado a partir de consulta a empresas potenciais investidoras, 84,5% indicaram os impostos como o principal inibidor de investimentos, seguido pela incerteza nas políticas públicas (75,9%), o acesso a créditos (72,1%) e a corrupção (67,2%). O relatório revelou também que 52,2% consideraram a criminalidade fator relevante para a decisão de novos investimentos.

Outra causa da insegurança do investidor é a incerteza quanto à manutenção das reformas já realizadas pelo governo. Por exemplo, foi preciso o Judiciário confirmar constitucionalidade da contribuição do servidor aposentado para que a reforma da Previdência se tornasse realidade plena.

Há, ainda, outra questão: investidores locais e estrangeiros temem que fatores estruturais inviabilizem o crescimento da produção. Ou seja, de acordo com tal visão, o País necessitaria primeiro investir em sua infra-estrutura para só depois disso partir para o aumento da produção. Uma cautela plenamente justificável.

Mas, sem recursos suficientes para aplicar em obras (energia, estradas, portos, etc.), o País corre o risco de atrair cada vez menos investimentos privados, tal o nível de incerteza regulatória vigente.

Para começar a desatar esse nó, o governo terá de pelo menos aprovar as Parcerias Público-Privadas (PPPs), destinadas a financiar os grandes projetos de ampliação da infra-estrutura, que ainda tramitam no Congresso, de forma simples, concisa e transparente, tal como já foi feito em São Paulo, Minas Gerais e Goiás.

kicker: Investidores temem que fatores estruturais inviabilizem o crescimento