Título: Acesita busca florestas no exterior para suprir demanda de carvão
Autor: Durval Guimarães
Fonte: Gazeta Mercantil, 23/08/2004, Indústria, p. A-12

A Acesita Energética, subsidiária da Acesita, maior produtora de aço inoxidável da América Latina, estuda a compra de florestas no exterior para produzir carvão para alimentar os altos-fornos da usina. Segundo o presidente da energética, Rubens Teodoro da Costa, as possibilidades de negócios são avaliadas pela consultoria florestal paraense STCP, que examina propostas até na África do Sul.

O carvão é indispensável na siderurgia. O material fornece o carbono que, em associação com o minério de ferro, produz o ferro-gusa, principal insumo do aço. Para se obter uma tonelada de ferro é necessário misturar 500 quilos de minério e outros 500 de carvão. O material ainda tem o papel de aquecer o processo químico. A Acesita produziu 720 mil toneladas de aço no passado. Desde 1996, seduzida pela paridade entre o real e o dólar, decidiu converter um de seus dois alto-fornos para carvão mineral, que é importado. Na época, o coque (formado a partir do minério e carvão) estava mais barato que o carvão produzido nas florestas mineiras de eucalipto.

Hoje, a situação se inverteu. A tonelada de carvão vegetal está cotada em US$ 140, e a do coque importado ultrapassa os US$ 450. No entanto, para fazer a reconversão imediata e usar apenas material vegetal, a siderúrgica teria que contar com a duplicação de fornecimento de carvão por parte da energética, que é, atualmente, de 12,5 mil toneladas mensais. "É uma hipótese impossível, pois somos apenas capazes de atender à demanda de um único alto-forno. A partir de janeiro, triplicaremos o plantio - hoje em 4.500 hectares por ano - mas como o eucalipto é abatido sete anos depois do plantio, significa que só teremos madeira disponível na próxima década", disse Teodoro.

A provável reconversão do alto-forno da Acesita coincide com uma grande demanda por madeira para a produção de carvão em Minas. O estado possui 90 fornos em 41 pequenas empresas independentes que produzem cinco milhões de toneladas de ferro-gusa e, desde o ano passado, estão trabalhando a pleno vapor para vender uma mercadoria que já passou de US$300 a tonelada. A metade da produção é exportada, segundo o sindicato do setor.

Além disso, as grandes siderúrgicas estão rompendo o limite da capacidade de produção e todas elas operam, no todo ou em parte, com carvão de madeira, que não só é mais barato mas, está isento de enxofre - uma verdadeira praga nas aciarias e fundições. Ao todo, Minas consome quase cinco milhões de toneladas de carvão anualmente para alimentar suas siderúrgicas. Como não há eucalipto suficiente para atender a essa demanda, os guseiros buscam carvão no Pará, produzido a partir do abate de florestas nativas, a mais de dois mil quilômetros de distância de seus fornos.

Na última sexta feira, o agrônomo José Batuíra de Assis, secretário executivo da Associação Mineira de Silvicultura, disse a este jornal que dentro de dois anos faltará carvão para atender à demanda atual do setor siderúrgico mineiro. Ele credita o problema à ausência de programas de financiamento para formação de florestas e, em decorrência, as siderúrgicas passaram a plantar menos do que necessitavam para alimentar seus altos-fornos. "Hoje, há apenas 100 milhões de metros cúbicos de madeira nos campos. Como o consumo anual é estimado em 50 milhões, isso significa que faltará matéria-prima já em 2007".

A Acesita Energética é uma grande produtora de carvão, a partir das suas florestas de eucalipto, que ocupam mais de 90 mil hectares no nordeste de Minas. Com a conversão do forno, na época da privatização da siderúrgica, foram vendidas muitas áreas de sua propriedade no Espírito Santo.

Mesmo com energética se movimentando para buscar opções de fornecimento do insumo, o assunto não será comentado na siderúrgica enquanto não se tomar uma decisão oficial. Seus diretores temem que qualquer pronunciamento possa afetar o mercado acionário.