Título: Dilma diz que relatório de Agência é alarmista
Autor: Simone Cavalcanti
Fonte: Gazeta Mercantil, 28/10/2004, Energia, p. A-6

A ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, afirmou ontem que só haverá risco de falta de energia se o governo não fizer o seu papel, como licitações e construções de usinas de forma sistemática. "O risco de apagão não existe até 2010", disse ela. As projeções do governo são feitas para um prazo de aproximadamente cinco anos - tempo necessário para se construir uma usina geradora.

Ela rebateu as conclusões do relatório divulgado anteontem pela Agência Internacional de Energia (AIE), de que o País precisa aprimorar a regulação na área para atrair mais investimentos privados, já que os recursos públicos são insuficientes para garantir a sustentabilidade do setor.

De acordo com a ministra, o governo já tem feito parcerias com o setor privado para vários segmentos do setor. "Há muito tempo já estabelecemos parcerias", afirmou, lembrando que o estudo cita os problemas de racionamento pelos quais o País passou em 2001, antes da definição do novo marco regulatório.

A ministra deixou clara a diferença entre o governo e o estudo para as projeções e a base com que elas são feitas. O governo trabalha com estimativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 4,5% ao ano até 2010 e um aumento da taxa de consumo de energia de 5,1%. Já o estudo traça um cenário até 2030, estimando elevação do PIB de 3% ao ano e expansão do consumo energético de 2,9%, desconsiderando que nos países em desenvolvimento o consumo é sempre maior que o crescimento do PIB.

Energia nuclear

O relatório da AIE também defende que o país terá de lançar mão do uso da energia nuclear para garantir o abastecimento, já que há limites no uso da energia hidrelétrica.

"Sob o ponto de vista técnico, o relatório é muito pouco rigoroso neste espaço de tempo (até 2030)... É um olhar alarmista", afirmou a ministra.

Outro ponto contestado pela ministra diz respeito às possíveis alternativas do país para a geração de energia que foram colocadas pelo relatório. Para Dilma, o Brasil tem outras opções, sobretudo nos combustíveis verdes, gás, petróleo e até biomassa (a partir de resíduos ambientais, como bagaço de cana e casca de arroz).

"Hoje, o Brasil usa apenas 24% da capacidade de seus recursos hídricos", acrescentou.

Quanto ao uso da energia nuclear, Dilma afirmou que isso deve ser pensado em países que não tem mais muitas alternativas, o que, segundo ela, não é o caso brasileiro.

Otimista ao falar do futuro, a ministra disse ainda esperar que, daqui a 30 anos, o Brasil já deve ter deixado de ser um país em desenvolvimento.

A AIE calcula que o Brasil necessitará de investimentos de US$ 450 bilhões até 2030 para garantir o abastecimento. A ministra prevê que em um horizonte de 30 anos, a América Latina será toda interligada energeticamente assim como são atualmente Estados Unidos e Canadá e os países da Europa. A integração poderá garantir a troca de energia gerada em cada local. "Isso será uma questão estratégica, não nos próximos 10 anos, mas em 30 anos", afirmou.