Título: Déficit é um lembrete, diz Danilovich
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Fonte: Gazeta Mercantil, 28/10/2004, Internacional, p. A-8

O embaixador dos Estados Unidos (EUA) no Brasil, John Danilovich, disse ontem que o significativo déficit comercial do país neste ano, de US$ 550 bilhões - valor semelhante ao da economia brasileira -, é um lembrete "urgente de que as empresas dos Estados Unidos precisam ser mais competitivas nos mercados externos". Segundo ele, os candidatos à presidência na eleição de 2 de novembro, o presidente George W. Bush e o senador democrata John Kerry "estão conscientes destes problemas e querem ajudar as empresas a se tornarem mais competitivas". Déficit comercial não é novidade no país, mas neste ano tem sido bem elevado, inflado por motivos como a alta dos preços do petróleo e o crescimento da economia.

Os republicanos estão confiantes de que ganharão as eleições da próxima semana, mas têm consciência de que a disputa será apertada tanto no voto popular quanto no colégio eleitoral, segundo Mario Garnero, presidente da Brasilinvest, que na semana passada conversou com o pai de Bush, George H. Bush, com quem tem contatos freqüentes. Mas o lado dos democratas, com o qual tem contatos, também está muito confiante, disse. Nos EUA, os eleitores na verdade elegem aqueles que votarão no Colégio Eleitoral, que por sua vez é que escolhe o presidente.

Num discurso para cerca de 200 empresários num almoço na Câmara Americana de Comércio (Amcham), Danilovich disse que pediu a executivos para apresen-tarem suas opiniões sobre o mercado e as dificuldades que os setores em que atuam enfrentam. Nas perguntas feitas em seguida ao seu discurso, a questão da proteção à propriedade intelectual foi a questão mais levantada.

O governo dos EUA tem pressionado o Brasil para fazer melhor combate à pirataria no País. Segundo o embaixador, às vezes o Brasil parece avançar no assunto, outras vezes parece voltar atrás. E que diminuir padrões de proteção à propriedade intelectual é inaceitável. "Eu entendo totalmente sua frustração", disse a Steve Solot, vice-presidente sênior para América Latina da Motion Picture Association, que reclamou sobre o combate que considera insuficiente à pirataria. A industria do cinema é uma das que pediu tomada de providências por parte dos EUA. Washington analisa o combate pelo Brasil e com isso definirá se mantém benefícios tarifários dados pelo Sistema Geral de Preferências (SGP), ou se os suspende.

O diplomata disse ainda que propriedade intelectual é "uma parte crítica, um alicerce" na negociação da Área de Livre Comércio da Américas (Alca).

Danilovich disse que Washington reconhece que politicamente o Brasil é hoje a âncora da América do Sul, e que vê de forma positiva a liderança na região que o Brasil tem demonstrado. Também elogiou a política econômica adotada pelo Brasil desde o governo de Fernando Henrique Cardoso. E disse que bom é ter crescimento sustentável, e não índices de crescimento instáveis, positivos e negativos, "como os Alpes suíços".

kicker: "Eu entendo sua frustração", disse o embaixador a executivo sobre pirataria