Título: Líderes mundiais atentos à campanha
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Fonte: Gazeta Mercantil, 28/10/2004, Internacional, p. A-8

Mesmo sem se manifestar, muitos governantes têm preferência por Kerry ou Bush. Os líderes mundiais esperam pela eleição nos EUA com ansiedade, mas é pouco provável que haja grandes mudanças na política externa norte-americana ou na atual ordem global. Muitos líderes que deram apoio à invasão do Iraque, como o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, ou o do Japão, Junichiro Koizumi, querem que o presidente George Bush seja reeleito, a fim de não ficarem isolados em virtude da guerra. Apesar de não dizerem isso abertamente, muitos políticos contrários ao conflito, como o presidente da França, Jacques Chirac, gostariam de ver o fim dos quatro anos de governo Bush, marcados por um crescente unilateralismo, e prefeririam a vitória do senador John Kerry, do Partido Democrata.

Diversos líderes gostariam de ver mudanças no estilo e no tom da política externa dos EUA, acreditando que mesmo pequenas alterações poderiam ajudar a melhorar as relações com muitos aliados jogados para escanteio pela guerra do Iraque e cada vez menos dispostos a aceitar americanos como líderes morais do globo.

Mas há dúvidas sobre se os candidatos conseguirão restabelecer a confiança nos EUA e se Kerry estaria realmente disposto a adotar uma postura mais multilateral, como defendem muitos aliados. "Há diferenças entre eles, mas, do nosso ponto de vista, elas são menos agudas do que a maior parte dos europeus acredita", afirmou Karsten Voigt, do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha. Annette Heuser, diretora da Fundação Bertelsmann, da Bélgica, disse: "Na verdade, não importa quem seja o vencedor. Os desafios com que se deparam os europeus continuarão sendo os mesmos. O Iraque é a chave".

Na América Latina, o apoio acompanha questões bilaterais. Segundo analistas, o governo do Brasil preferiria Bush porque acredita que ele é mais aberto do que Kerry nas negociações sobre o comércio internacional. Cuba continua sendo um dos mais veementes críticos do atual presidente dos EUA, mas não há um apoio oficial a Kerry, que prometeu manter o embargo comercial sobre a ilha.

Fator Iraque

A invasão do Iraque detonada pelos EUA em 2003 foi o momento de definição da Presidência Bush para muitos líderes mundiais. Outros fatores importantes foram a "guerra contra o terror", declarada pelo presidente depois dos ataques de 11 de Setembro, a oposição norte-americana ao Protocolo de Kyoto - cuja meta é combater o aquecimento da Terra - e a recusa dos EUA em reconhecer o Tribunal Penal Internacional (TPI).

Analistas de política dizem ser improvável que grandes mudanças aconteçam nessas áreas, não importa o nome do próximo presidente dos EUA. E não há indícios de que Kerry abandonaria a antiga aliança com Israel no Oriente Médio ou de que se aproximaria da postura dos europeus na questão do programa nuclear do Irã.

Muitos europeus, porém, prefeririam Kerry - ou qualquer um que não Bush - simplesmente para que haja uma mudança de ares. Uma recente pesquisa de opinião realizada na França mostrou que quase 90% da população desse país apóia o candidato democrata.

A maior parte dos líderes europeus também preferiria ver Kerry no poder. Mesmo o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Tony Blair, que foi à guerra com Bush, poderia recalibrar as relações da Grã-Bretanha com os EUA e a Europa", disse Philip Stephens, biógrafo do dirigente. O presidente russo, Vladimir Putin, apesar de contrário à invasão do Iraque, deixou bastante claro que deseja a permanência de Bush na Casa Branca. A China tem se mantido discreta, mas, segundo diplomatas, o país provavelmente prefere Bush já que seus dirigentes estão acostumados com ele, o que favorece a estabilidade interna e externa.