Título: Setor de consumo passa por processo de consolidação
Autor: Adriana Cotias
Fonte: Gazeta Mercantil, 28/09/2004, Finanças & Mercados, p. B-1

Para presidente da Losango, alguns pequenos não terão futuro. Tal como o setor bancário pós Plano Real, a área de financiamento ao consumo passa por um processo de consolidação. Segundo prognóstico do presidente da Losango, Leonel de Andrade, a tendência é o mercado isolar alguns "players" grandes e replicar no segmento de crédito massificado a configuração já existente no varejo. Neste mapa figurariam Bradesco, Itaú, Unibanco e HSBC e até dois outros estrangeiros.

"Alguns pequenos, embora competentes e sérios na gestão, claramente não têm futuro", disse ontem após participar do Simpósio Provar, promovido pela CardNews em parceria com a Fundação Instituto de Administração (FIA). "Trata-se de um negócio que requer capital intensivo e estes players vão esbarrar nas dificuldades de operar em grande escala."

Segundo o executivo, a queda dos "spreads" e o alargamento dos prazos acabam comprometendo as operações sem fôlego de capital. Com o aumento da maturação das carteiras a juros relativamente mais baixos do que há alguns anos, os credores levam mais tempo para reaver o dinheiro emprestado e reduzem o giro do seu ativo.

Para se ter uma idéia da evolução dos custos para o tomador final, Andrade exemplifica que em 1999 um financiamento saía a 9,5% ao mês. Hoje, a mesma transação é concretizada a 5,7% ao mês. O preço ainda é alto, mas pode ser insuficiente para remunerar financeiras de pequeno porte.

Apesar desta leitura de cenário, Andrade diz que depois de o HSBC Bank Brasil investir cerca de US$ 1 bilhão na área de consumo no Brasil - com a compra do Lloyds/Losango e da Indusval Financeira/Valeu - o grupo deve privilegiar o crescimento orgânico no País, sem descartar novas aquisições se surgirem oportunidades no mercado. A financeira, que conta com uma base de 17 milhões de clientes (8,9 milhões ativos) vai fechar o ano com 270 filiais próprias e presença em quase 20 mil lojistas. O plano de negócios prevê alcançar a marca de 500 filiais até 2008. A carteira de crédito, estimada em R$ 2,2 bilhões em dezembro, triplicaria de tamanho neste intervalo. Na estratégia, o segmento de cartões ganhar relevância. A Losango vai ter a sua própria bandeira em 2005, num produto especialmente desenhado para a baixa renda. O planejamento da financeira ainda terá no comércio a principal fonte de prospecção e a meta é chegar a 30 mil lojistas em dois anos. A Losango já tem parceria com 15 grandes varejistas regionais, como Insinuante, Mig e Ricardo Eletro, em que divide o resultado em meio a meio. "O varejo é, hoje, a noiva mais cobiçada do sistema financeiro", reconhece.

O estreitamento desta relação com a divisão dos lucros em partes iguais é um fenômeno recente no mercado. Segundo a superintendente do Magazine Luiza, Luiza Trajano Rodrigues, antes de selar o acordo com o Unibanco para constituir a LuizaCred em sociedade, a executiva chegou a bater às portas da Losango propondo este modelo de negócio. As conversações não evoluíram e a rede quase concretizou parceria com a francesa Cetelem. Entre idas e vindas de cláusulas contratuais, as partes não chegaram a um acordo e o Unibanco foi aos "finalmentes" com a varejista, em 2001. "Sem dar crédito, o varejo condena seu crescimento", disse Luiza. "E sem uma parceria, de fato, fica a mercê das condições do mercado: os bancos dão o CDCI (o Crédito Direto ao Consumidor com Interveniência) quando tudo vai bem e o restringem a oferta quando há problemas."

No primeiro ano de operação, em 2002, a LuizaCred fechou com uma carteira de R$ 211 milhões, subindo a R$ 331 milhões no ano passado e com projeção para encerrar 2004 com R$ 475 milhões. Os desembolsos saíram da casa dos R$ 390 milhões para R$ 761 milhões em dois anos. O retorno sobre o patrimônio está na casa dos 50%.

Segundo o diretor da LuizaCred, Arquimedes Salles, o executivo oriundo da Fininvest e responsável pela negociação com o Magazine Luiza, o êxito do negócio residiu no fato de a varejista não depender do resultado financeiro à época em que procurou um parceiro. "A operação era redonda e não estava na situação de ter um lucro mercantil baixo, dependendo exclusivamente dos ganhos financeiros", disse.