Título: Agricultor quer mais apoio do governo em 2005
Autor: Neila Baldi
Fonte: Gazeta Mercantil, 28/10/2004, Agribusiness, p. B-12

Com perspectiva de preços menores para os grãos, cresce lobby para aumentar a oferta de recursos oficiais. Diante de uma perspectiva de safra cheia e de queda nos preços internacionais das commodities, o governo está preocupado com a comercialização da safra futura e pretende ampliar os recursos destinados ao apoio à comercialização da produção. Segundo analistas de mercado, se não houver intervenção governamental, o cenário é de aumento da inadimplência e do endividamento no campo.

Para o orçamento de 2005, o governo encaminhou ao Congresso Nacional a solicitação de uma verba de R$ 527 milhões, destinados a apoiar a venda da produção, volume 90% superior ao atual. O recurso poderá ser ampliado no Congresso Nacional, mediante emendas da bancada ruralista.

Segundo analistas e representantes do setor, se o montante não for modificado, será insuficiente para atender os produtores. Isso porque mais de 55% da verba (R$ 300 milhões) já está comprometida com os contratos de opção de trigo, lançados no mês passado e que vencem em janeiro de 2005. Mas o secretário de Política Agrícola do ministério, Ivan Wedekin, diz que o valor não é estático, pois todo produto apoiado pode reverter em receita posterior com a venda dos estoques e, desta forma, outros grãos serão beneficiados.

De acordo com consultores, a tendência é que os preços dos principais produtos agrícolas do Brasil caiam no próximo ano. Por isso, todos são unânimes em afirmar que o governo precisará intervir e que os recursos são insuficientes. A idéia inicial do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento era que fossem alocados R$ 900 milhões para as ações de política agrícola. Os ruralistas consideram, no entanto, que o montante adequado pode chegar a R$ 1,5 bilhão.

"O recurso terá de ser ampliando e muito", diz o presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados, Leonardo Vilela. Segundo ele, o setor pedirá aumento também para as verbas destinadas à pesquisa e à sanidade animal. Para Vilela, se não houver um incremento no recurso destinado ao apoio à comercialização, haverá um retrocesso na produção futura e endividamento do setor.

Para os analistas, não só a queda dos preços internacionais das commodities, resultado de grandes safras mundiais, está provocando a perda na rentabilidade do agricultor brasileiro. Outro motivo é o aumento do custo de produção que, no caso da soja, chegou a 30%, e os problemas com a logística, que provocam perdas aos produtores, como prêmios negativos no escoamento da safra. "Se houver a repetição dos problemas de logística, principalmente no Paraná, isso vai exigir dos produtores estratégias fortes para o escoamento da safra. Do contrário, o preço cai", afirma Paulo Molinari, consultor da Safras & Mercado. Segundo Getúlio Pernambuco, chefe do Departamento Econômico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), como o Brasil não tem como influenciar as cotações internacionais, necessariamente o governo terá de intervir.

"Os produtores vão ter sérios problemas na colheita e, por isso, o ano que vem será para o uso dos recursos de política agrícola", afirma Daniel Dias, analista da FNP Consultoria. Segundo ele, a comercialização do ano que vem vai impactar diretamente na produção de 2005/06, aumentando a inadimplência e dificultando ainda mais a tomada do crédito para a safra futura. Os analistas são unânimes em afirmar também que o agronegócio brasileiro terá problemas ainda com as exportações, pois os preços em queda não estimulam as vendas externas, o real está valorizado e os fretes tendem a subir.

Molinari acredita que será preciso o lançamento de opções para um volume de 1,6 milhão a 2 milhões de toneladas para estimular o plantio da safrinha de milho, do contrário o País poderá ter problemas de abastecimento. "O governo vai ter que ajudar, pois durante dois anos foi o setor que salvou a balança comercial", afirma. Ele acrescenta que as exportações não sustentarão o preço e tendem a cair de 4,3 milhões de toneladas para 2,7 milhões de toneladas. Para Dias, o preço do milho poderá reagir, uma vez que a área plantada diminuiu e a demanda interna está aquecida devido ao aumento das exportações de frangos e suínos.

"Provavelmente o arroz vai precisar de apoio do governo", avalia Aldo Lobo, da Safras & Mercado. Segundo ele, contratos para entrega em janeiro estão cotados a R$ 23 a saca em Mato Grosso, quando o preço atual é de R$ 27 a saca. De acordo com Lobo, se o Mercosul continuar com safra grande haverá excedente de produção, provocando redução nos preços. "No mercado interno, a produção será maior que o consumo e, no externo, temos a pressão de produto dos países do Mercosul, que tradicionalmente exportam para o Brasil", afirma Fábio Meneghin, analista da Agroconsult.

Para a próxima safra de algodão, que terá aumento de área, o analista Miguel Biegai Jr, da Safras & Mercado, diz que o governo precisará lançar, já em janeiro, opções para 400 mil toneladas, pois haverá uma oferta muito maior que o consumo. Além disso, as exportações tendem a ser menores. Meneghin também acredita que o trigo precisará de apoio, pois o produto do Mercosul chega mais barato no Brasil.

Até os produtores de soja, que tradicionalmente não precisam do apoio governamental, em 2005 vão necessitar de ajuda, pois a perspectiva é de preços em baixa. Segundo Dias, enquanto no primeiro semestre de 2004 a soja era vendida a R$ 50 a saca, para o mesmo período do ano que vem a expectativa é de preços de R$ 30 a saca. "Com o aumento dos custos de produção e redução nos preços, a lucratividade vai cair em 50%", afirma Dias. Por isso, a CNA solicitou ao governo o alongamento do custeio para quatro parcelas (atualmente é apenas uma). O pleito será analisado hoje pelo Conselho Monetário Nacional.