Título: Vale gera negócios aos pequenos fornecedores do Pará
Autor: Raimundo José Pinto
Fonte: Gazeta Mercantil, 28/10/2004, Gazeta do Brasil, p. B-13

As empresas paraenses, mesmo as pequenas, podem fornecer para os empreendimentos da Vale no estado do Pará. Os fabricantes de móveis de madeira de Paragominas, município localizado no sudeste do Pará, onde está instalado um dos principais pólos moveleiros da região, formaram uma associação através da qual estão fornecendo os móveis necessários à implantação de um dos maiores empreendimentos minerais da Companhia Vale do Rio Doce no estado, o de exploração da mina de bauxita no município, que representa um investimento inicial de US$ 270 milhões e que produzirá 4,5 milhões de toneladas anuais na primeira fase.

Este é apenas um exemplo de como as empresas paraenses, mesmo as pequenas, como os fabricantes de móveis de Paragominas, podem participar como fornecedoras para os grandes empreendimentos que a Vale está implantando ou expandindo no estado do Pará. E as possibilidades de aumento dessa participação, através da prospecção de novos negócios, foram tratadas ontem em Belém, durante um workshop promovido pelo Programa de Desenvolvimento de Fornecedores do Pará (PDF). No evento a Vale apresentou os investimentos que está fazendo em alguns de seus projetos: o de exploração da mina de cobre em Canaã dos Carajás; exploração da bauxita de Paragominas; ampliação da extração de ferro em Carajás e a ampliação da capacidade de produção da fábrica de alumina da Alunorte em Barcarena. Apenas com esses projetos, os investimentos previstos alcançam US$ 1,3 bilhão. Mas até 2010, a Vale deverá investir no Pará US$ 5,5 bilhões em todos os seus projetos.

O workshop de ontem reuniu um grande número de fornecedores locais, dos setores de construção civil, metalmecânica, serviços e comércio, entre outros, além dos chamados detentores de tecnologia e grandes empresas construtoras e montadoras.

Durval Vieira de Freitas, consultor do PDF, diz que a participação dos fornecedores locais pode ocorrer através dos detentores de tecnologia, construtoras e montadoras, que fecham os grandes contratos com a Vale. Segundo Freitas, essas empresas não fornecem mais do que 30% do contrato, sendo o restante contratado com terceiros. É aí que existe espaço para a participação das empresas locais.

"No Pará, temos muitas empresas com competência para serem contratadas por esses detentores de tecnologia, que inclusive podem levar essas empresas paraenses para atender seus contratos em outras regiões", ressalta. Para Freitas, a participação das empresas fornecedoras paraenses nesses investimentos da Vale pode chegar a algo entre 35% e 40%. O evento, o primeiro desse tipo realizado no estado, teve a participação de 142 pessoas. Durante a rodada de negócios foram realizados 220 contatos entre fornecedores, os detentores de tecnologia, as construtoras e montadoras e a Vale e suas empresas. Hoje o PDF do Pará tem cadastradas 240 empresas fornecedoras, nas mais diversas áreas.

Nos últimos dois anos, de acordo ainda com Freitas, tem aumentado bastante a participação das empresas paraenses nesses empreendimentos. Algumas delas já se enquadram entre as grandes construtoras e montadoras, como a Estacon, Engeplan, Vilaça, MIB, Estaleiro Maguari, Transglobal e a Integral.

Uniformes

Na rodada de negócios estavam participando grandes empresas detentoras de tecnologia, como a Haver & Boecker Latinoamericana, Metso, Geocret Engenharia e Tecnologia, Schenck do Brasil, Siemens, Cartepillar/Sotrec e a White Martins. Uma das pessoas entusiasmadas com o resultado da rodada de negócios de ontem era a empresária Márcia Ferreira, da Máster, fabricante de uniformes.

É que ela recebeu a informação, dada ontem pelo coordenador do PDF no Pará, David Leal, de que a Vale deverá passar em breve a adquirir todos os uniformes de seus funcionários no Pará de empresas locais. São nada menos do que 120 mil uniformes adquiridos pela empresa todos os anos. Hoje, em torno de 90% deles são comprados de outros estados, principalmente do Amazonas.

Márcia Ferreira já fornece atualmente uniformes para algumas das empresas terceirizadas pela Vale e espera, a partir dos contatos mantidos ontem, passar a fornecer diretamente para a mineradora. Hoje são seis as empresas locais fabricantes de uniforme cadastradas junto ao PDF. Há um cálculo de que essa decisão da Vale deverá representar a abertura de cerca de 250 novos empregos nessas empresas.

Amauri Albuquerque Chaves, da Arteverde Jardins e Parques, era outro entusiasmado com as novas possibilidades de negócios abertas através do PDF. Sua empresa fez recentemente todo o projeto paisagístico do projeto da mina do cobre do Sossego, que a Vale começou a explorar em junho, além da própria cidade de Canaã dos Carajás, que serve de base para o Sossego. E ontem mesmo ele já prospectava a possibilidade de participar de um trabalho semelhante no projeto de bauxita em Paragominas.

Novas unidades

Outra boa notícia dada ontem foi de que a Metso, uma das maiores fabricantes de peças e equipamentos para mineração do mundo e que tem contratos com a Vale, deverá instalar no Pará unidades de fabricação de alguns de seus componentes. "A partir desses contatos feitos hoje, deveremos ampliar nossa presença no estado", afirmou Marcelo Henriques Mattos, da Metso. E Alisson de Vasconcelos Silveira, que comanda a ampliação da produção de ferro em Carajás, anunciou que a Vale está empenhada em que as empresas de engenharia que atuam em seus projetos instalem escritórios no estado. Hoje existe apenas uma dessas empresas nessas condições e esse número deverá ser ampliado para quatro a seis, com a contratação de mais mão-de-obra local.

David Leal informou que um próximo encontro, semelhante ao de ontem, deverá ocorrer no início de 2005, envolvendo outras empresas com grandes projetos previstos para o estado. Entre esses projetos estão o da fábrica de cerveja e refrigerantes da Schincariol, o de níquel da Onça Puma em Ourilândia do Norte, o de bauxita da Alcoa em Juruti e o de ferro-gusa da Vale em Marabá, em associação com a norte-americana Nucor.

kicker: Participação será com construtoras, montadoras e empresas de tecnologia

kicker2: Metso terá unidade para produzir componentes de mineração no estado