Título: Empresários pedem investimento no turismo cultural
Autor: Ângelo Castelo Branco
Fonte: Gazeta Mercantil, 28/10/2004, Gazeta do Brasil, p. B-14

Associação da Indústria de Hotéis cultural falta política para fortalecer capital enquanto litoral Sul ganha com alta estação. O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-PE), empresário José Otavio de Meira Lins, contestou a projeção que a estatal Empresa Pernambucana de Turismo (Empetur) faz dos números do setor e afirmou que " falta estratégia de ação ao governo estadual para fortalecer o turismo em Pernambuco".

Para Meira Lins, os órgãos que cuidam do turismo pernambucano apresentam três deficiências. "Primeiro, falta de planejamento e atenção com as potencialidades turísticas do litoral Norte e com o denso produto cultural da capital, até para equilibrar a explosão que compromete a qualidade do turismo em Porto de Galinhas, que representa apenas 10% da atividadeno Estado."

Para ele, em segundo lugar, "falta política continuada para consolidar o Recife, como destino turístico cultural. Nesse aspecto, é preciso que a Prefeitura do Recife se envolva mais firmemente com a atividade". Em terceiro lugar, disse ele, "falta investimento público na divulgação do turismo cultural e gastronômico, em contrapartida a importantes investimentos privados feitos na Oficina Francisco Brennand, na Cachaçaria Carvalheira, no Instituto Ricardo Brennand e em mais de 97 restaurantes de primeira linha da capital".

Para o líder do setor, o litoral Norte, bairro do Recife Antigo e turismo cultural e gastronômico "são quatro opções econômicas que evidenciam promissores resultados, se bem conceituados, mas que não recebem tratamento adequado dos órgãos estaduais." De acordo com ele, o Litoral Norte não recebe ação planejada e promocional. "O Recife Antigo só é lembrado nas crises ou no carnaval e o turismo cultural e gastronômico vivem de investimentos de empresas privadas, que aplicaram, nos dois últimos anos, mais de US$ 5 milhões em equipamentos culturais.

Segundo o presidente da ABIH regional, em matéria de captação de turistas estrangeiros, Pernambuco, com 50 mil turistas, está atrás da Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte, com 70 mil turistas. Isso, diz ele, porque a "Empetur só pensa em turismo no Litoral Sul se descuida inclusive do turismo de negócio e de convenção. Aliás, nesse ponto, o Recife Convention Bureau, entidade privada, tem sido bem eficiente".

Para Meira Lins, é preciso planejar e promover o turismo no Recife, "que significa 70% dos leitos no estado e é na capital que se encontra o maior patrimônio natural e cultural de Pernambuco". Conforme o dirigente da ABIH, não adianta a Empetur tentar produzir números em cima de picos de ocupação em épocas selecionadas porque, "mais dia, menos dia, a íntegra da realidade aparece. É preciso substituir o marketing da notícia, aqui dentro, pelo marketing institucional de Pernambuco, lá fora", acentuou ele.

De acordo com os técnicos da Empetur o Recife mantém a média de 75% de ocupação durante o ano inteiro e apresenta picos de 100% na alta estação de Verão.

Até agosto de 2004, o Centro de Convenções recebeu 228 eventos, entre feiras, exposições e congressos com público de 1.074.850 pessoas, gerando uma movimentação na cidade de R$ 61.750.132,00, conforme boletins da empresa oficial.

Esvaziamento

Entretanto, os empreendedores instalados no bairro do Recife Antigo, velha zona boêmia da capital cujos prédios foram totalmente restaurados ao longo da rua do Bom Jesus ou rua dos Judeus e em paralelas onde funcionam unidades do Porto Digital e escritórios, denunciam um esvaziamento progressivo em bares e restaurantes.

Observa-se, por exemplo, que o início das operações no shopping Paço da Alfândega, um prédio tombado pelo patrimônio histórico e transformado num centro de compras de charme, também localizado no Recife Antigo com uma bela paisagem para o braço de rio que separa as duas ilhas (Recife e Santo Antônio, ou ainda a cidade portuguesa da cidade holandesa), vem experimentando um sensível crescimento em sua praça da alimentação e nas lojas, em contraste com a demanda nos demais estabelecimentos do bairro secular.

Uma das causas que provocam o baixo desempenho da demanda turística nos roteiros culturais do Grande Recife, segundo especialistas, é a falta de entrosamento do poder público com os operadores emissivos do Sul do país e os operadores receptivos pernambucanos. O pragmatismo na venda de pacotes e nos acordos entre esses operadores privilegia o litoral Sul do estado conforme revelam os números levantados pelas própria agências de turismo locais: 90% dos visitantes para lazer que desembarcam no Aeroporto Internacional da cidade seguem direto para os hotéis e pousadas de Porto de Galinhas em cuja área está situada a paradisíaca praia de Muro Alto com resorts de alto luxo.

Infra-estrutura

A região possui atualmente 145 hotéis, pousadas e resorts com 2 mil 500 unidades habitacionais e 7 mil 500 leitos das mais várias classificações, além de uma rede de restaurantes populares e de luxo. No Recife existem 84 hotéis e pousadas oscilando entre duas a cinco estrelas num total de 5 mil unidades habitacionais e 12 mil leitos. Meira Lins lamenta que há tesouros culturais mantidos à distância das promoções publicitárias e dos roteiros de turismo normalmente comercializados no mercado nacional e no exterior.

O maior conjunto de painéis em estilo barroco da América Latina, por exemplo, está disponível para visitas a apenas 30 km ao Norte do Recife, na antiga vila de Igarassú. São 24 quadros anônimos de grandes dimensões que impressionam pela firmeza das cores e detalhes das figuras e cenas de inspiração sacra. Datam dos séculos 17 e 18 e o seu valor é incalculável.

A coleção pertence ao secular Convento de Santo Antônio, erguido pela Ordem dos Franciscanos no ano de 1588, em homenagem e devoção a santo Antônio de Pádua. O santo nasceu em Lisboa no ano de 1196 e morreu aos 36 anos, em missão religiosa na cidade italiana de Pádua. Há, na mesma região, o Forte de Orange erguido na ilha de Itamaracá pelos holandeses.

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