Título: Empresas ganham fôlego para manter o ritmo
Autor: Aluisio Alves
Fonte: Gazeta Mercantil, 24/08/2004, Nacional, p. A-4

As captações externas feitas por grandes empresas nacionais exportadoras despencaram em 2004. Segundo dados levantados pela Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid) a pedido da InvestNews, a soma das emissões feitas por exportadoras brasileiras - por meio de bônus, securitização, e `medium term notes¿ - atingiu US$ 2,1 bilhões no acumulado do ano. Isso representa uma queda de 58,3% em relação à mesma etapa do ano passado.

Mas se os embarques não param de crescer, os preços internacionais da maioria dos produtos vendidos pelo País seguem em patamares altos e ainda há liquidez internacional para os emergentes. Segundo o sócio da consultoria Integral Trust, Carlos Fagundes, 2003 explica em parte este desempenho. Após um ano em que as portas do crédito externo foram fechadas para o País, as empresas se aproveitaram da liquidez externa, propiciada pelos mais baixos juros americanos em quatro décadas, e tomaram tudo o que puderam. "As companhias quiseram se antecipar", disse Fagundes.

E a opção parece ter sido acertada. Depois que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) começou a dar sinais de que iria iniciar um aperto monetário, os investidores encolheram os prazos e alongaram as taxas par aceitar papéis domésticos. Exceto para Vale do Rio Doce e Votorantim Papel e Celulose.

De acordo com a presidente da agência de classificação de risco Standard & Poor¿s, Regina Nunes, embora seja verdade que as condições impostas dos investidores tenham crescido de lá para cá, as empresas nacionais também resolveram endurecer. Bem capitalizadas, suas necessidades de refinanciamento diminuíram, o que as deixou em posição confortável, pelo menos no curto prazo. "Elas estão procurando bons prazos e preços", afirmou Regina Nunes.

No ano passado, os US$ 73,1 bilhões exportados pelo Brasil revelaram-se a única saída para as empresas escaparem de um mercado doméstico em retração e, para o governo, alcançar um superávit nas contas externas de US$ 24,8 bilhões que o livrou de um possível `default¿ da dívida pública. Mas se for mantido o crescimento médio de 34,9% das exportações, acumuladas de janeiro a agosto deste ano, o País deve fazer com que as vendas externas superem a inédita marca de 15% do Produto Interno Bruto (PIB), índice que mostra a melhora na saúde do perfil dos recursos que financiam o endividamento externo do País.

Para o ex-embaixador Celso Lafer, a grande transformação está no setor privado. "Houve uma mudança de pensamento dos empresários", disse. Já o também ex-embaixador Luiz Felipe Lampréia, disse que a atual conjuntura é uma das facetas da irreversível decisão política tomada pelo Brasil de exercer um papel mais ativo no comércio e na geopolítica mundial. "Estamos vencendo um estágio de certa passividade", afirmou Lampréia.

Naturalmente não é só isso. O exuberante agronegócio, por exemplo, beneficia-se de uma combinação de fatores positivos: ganhos de produtividade em montanha de dinheiro investido em pesquisas por décadas, combinado com a demanda de um pujante mercado chinês, a manutenção de preços de commodities em máximas históricas e das lentas, mas progressivas, reduções de subsídios ilegais de países ricos aos seus próprios produtores.