Título: Marta e a direção petista apostam na virada domingo
Autor: Sérgio Prado e Sérgio Pardellas
Fonte: Gazeta Mercantil, 29/10/2004, Política, p. A-8

Entretanto, Ibope diz que o mais provável é a vitória do PSDB. Marta Suplicy aposta no trabalho da militância do PT para tentar a vitória contra o tucano José Serra, no domingo. Ontem, ela voltou a pedir empenho máximo dos petistas nos dois dias, que faltam para o segundo turno, para convencer os eleitores paulistanos de que merece ficar mais quatro anos à frente da prefeitura. "Não é gritar, brigar nem desprezar. É argumentar", discursou a prefeita.

Tanto a prefeita quanto a cúpula de seu partido aumentam o tom da campanha, com o mote de que chegou a "hora da virada". Referem-se à mudança do quadro desfavorável nas pesquisas, que apontam Serra como franco favorito. Na melhor das hipóteses, o candidato tucano tem sete pontos percentuais de vantagem, num universo de 7,8 milhões de eleitores.

A diretora do Ibope, Márcia Cavallari, diz que a vitória do PT é muito difícil e o mais provável será o PSDB ganhar em São Paulo. Nem mesmo o debate de hoje a noite, na Rede Globo, poderia mudar este cenário, ponderou a diretora do Ibope.

Ontem, Marta organizou um de seus últimos passos de campanha. No início da tarde, a prefeita participou de uma caminhada na região da Praça da Sé, um dos pontos mais emblemáticos do centro velho de São Paulo. "Aperte um, aperte três, quero Marta outra vez", era o coro dos manifestantes, que segundo o comando petista chegava a 40 mil pessoas. Mas a Polícia Militar disse que seriam 2,5 mil.

Marta abandonou os ataques diretos a seu oponente e reforçou suas realizações. "É hora de argumentar. Nós temos o que mostrar. Foram revoluções no transporte, na educação, na cidade toda. Eu olho para vocês, eu escuto as pessoas falando na rua comigo, dizendo que estão comendo porque recebem o Renda Mínima, dizendo que o filho está aprendendo um instrumento musical no CEU e isso me faz lutar. Me faz lutar contra o preconceito, as mentiras, e a baixaria", disse a prefeita.

O descontrole verbal, entretanto, ficou por conta de seu vice, Rui Falcão. "Nós temos medo que eles (tucanos) tentem fraudar nossa eleição", afirmou em seu discurso, que na prática era o último compromisso da campanha, que reuniu expoentes petistas como o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, e o presidente nacional do PT, José Genoino.

Em relação a um hipotético segundo mandato, ela diz que quer ampliar os Centros Educacionais Unificados (CEUs). Hoje existem 24 unidades espalhados pela capital. Seriam construídos outros 21. Marta promete trabalhar pela integração do Bilhete Único do ônibus com o Metrô. Ela promete ainda dar maior atenção à saúde, o ponto que considera pior de seu mandato e alvo de críticas duras de Serra.

Pés no chão

Apesar do clima de euforia ter tomado conta da campanha de Marta, em função das últimas pesquisas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve a cautela em conversa com assessores próximos no Palácio do Planalto. O presidente reuniu-se com integrantes do núcleo consultivo do PT e governo onde teria recomendado serenidade na reta final da campanha, segundo participantes da conversa. No encontro, um parlamentar petista chegou a afirmar que chegou a "hora da virada".

O presidente sabe, contudo, que a situação de Marta ainda é muito complicada. Ele quer evitar que uma eventual derrota em São Paulo seja vista como numa catástrofe para o governo, a despeito do simbolismo que uma vitória petista no seu berço político carregaria sobretudo num confronto direto com o PSDB, hoje o principal adversário do PT no País.

A diferença entre Serra e Marta Suplicy caiu para sete pontos percentuais na disputa pela Prefeitura de São Paulo, revelou o Datafolha. O tucano tem 49%, contra 42% da petista. Na pesquisa anterior, feita em 21 de outubro, o placar era de 51% a 41%.

Ontem, após almoço na Granja do Torto com o presidente Lula e o ex-presidente e atual embaixador do Brasil na Itália, Itamar Franco, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, acusou os tucanos de São Paulo de sentarem na cadeira antes da hora. Segundo ele, isso fica evidente "pelos artigos que eles publicaram na imprensa, pelo desprezo às obras da prefeita Marta Suplicy, pelo comportamento com a mudança de posição e esse ar de que já ganhou".

"O povo não gosta disso. O cidadão e a cidadã querem respeito. Eu acredito na virada. Os institutos de pesquisa apontam isso", afirmou o ministro. José Genoino disse que partido atravessa seu melhor momento desde o início do segundo turno das eleições municipais em todo o País. Está se configurando a virada a favor do PT nesta última semana. Até o dia da eleição, tiramos essa diferença", disse o presidente do PT.

Animado, o vice-líder do PT na Câmara, deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF), lembrou da tradição do PT em virar votos na reta final das eleições. Para ele, a militância petista possui uma capacidade de convencimento capaz de reverter resultados. "É muito comum no PT as viradas de última hora. Quando a militância petista vai às ruas é porque efetivamente acredita no seu candidato tornando o seu poder de convencimento muito grande", acrescentou.