Título: Falta de informação é um problema
Autor: Claudia Mancini
Fonte: Gazeta Mercantil, 29/10/2004, Internacional, p. A-10

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já falou várias vezes que a falta de conhecimento sobre outros mercados, como o da Índia, limita a capacidade do Brasil de exportar, e que é preciso mudar esse quadro. Mas esse não é o único limitador da atuação internacional do País. O Brasil não conhece bem a si próprio em vários aspectos, pois faltam estudos, do governo e da iniciativa privada, sobre o funcionamento e o potencial de diferentes setores, o que se reflete nas mesas de negociação. A situação parece estar melhorando nos últimos tempos, mas há espaço para se fazer mais.

Em serviços, por exemplo, além da falta de estudos, nem o balanço de pagamentos dá maiores explicações sobre o comércio exterior do setor. O modelo do balanço adotado é o padrão do Fundo Monetário Internacional (FMI), que outras economias também usam, como a dos Estados Unidos. Mas é um modelo em que os valores estão pouco desagregados, sem detalhar o que e para onde se exportou. Como os EUA usam também um modelo próprio, sabem melhor sobre o que compram de serviços brasileiros do que o Brasil.

Ricardo Mendes, gerente de projetos da Prospectiva Consultoria, diz que quando uma empresa se instala no exterior para prestar serviços, as remessas de dinheiro que manda para o Brasil aparecem no balanço como exportação de serviços, até se completar um ano da instalação. Depois disso, aparecem como investimento estrangeiro.

Ganhos do Brasil em disputas comerciais internacionais foram, em boa medida, obtidos pois havia dados suficientes para sustentar os argumentos do País. O setor agrícola tem feito esforços para conhecer melhor seu potencial externo, com iniciativas como o Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), do qual boa parte dos recursos vêm de subsetores do agribusiness. Para muitos analistas, o Brasil é defensiva na negociação de serviços muito porque desconhece sua inserção internacional e os ganhos que poderia ter. Outra área com pouca informação é compras governamentais.

O Icone e o balanço de pagamentos indicam que o problema da falta de estudos e de novas metodologias de análise, que dêem melhores condições negociadoras, é do Brasil, e que a solução passa por ações do governo como um todo (e não de um ou outro ministério) e da iniciativa privada. É que Brasília pode assinar acordos comerciais, mas são os empresários que sabem melhor quais restrições do existem para vender seus produtos num determinado mercado.