Título: O tradicional mantém espaço
Autor: Jaime Matos
Fonte: Gazeta Mercantil, 29/10/2004, Educação, p. A-13
A Facamp optou por oferecer mais qualidade a poucos alunos. O crescimento da educação continuada, um dos mais rentáveis negócios atualmente na área educativa, não eliminou novas iniciativas no modo tradicional. A Faculdades de Campinas (Facamp) é um exemplo. No quinto ano de vida, formou a primeira turma no ano passado. A escola foi idealizada por professores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) com a proposta de adotar padrões de formação compatíveis com as exigências do mercado internacional de trabalho em setores de alta especialização científica e tecnológica e formar profissionais de alta competência, para postos de liderança.
Os professores fundadores da Facamp foram João Manuel Cardoso de Mello, ex-diretor do Instituto de Economia da Unicamp e autor do livro "O Capitalismo Tardio"; Liana Aureliano, doutora pela Universidade de Campinas e ex-diretora executiva da Fundação do Desenvolvimento Administrativo do Estado de São Paulo; Luiz Gonzaga Belluzzo, professor titular do Instituto de Economia da Unicamp e ex-chefe da Assessoria Econômica do Ministério da Fazenda, Secretário de Ciência e Tecnologia e Secretário de Relações Internacionais do Governo de São Paulo. A eles juntou-se Eduardo da Rocha Azevedo, que passou um quarto da vida profissional na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), de onde saiu aos 40 anos após quase dez anos como presidente e vice-presidente, além de ter sido fundador e primeiro presidente da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F).
Azevedo que tinha como um dos diretores da corretora Convenção, neste período, Luiz Gonzaga Belluzzo soube que ele ¿ Com Cardoso de Mello ¿ tinham uma autorização para abrir uma faculdade de Economia e Administração. "Resolvemos então fazer uma faculdade diferenciada fora da região de São Paulo", lembra Azevedo. "Não queríamos competir com Ibmec, FGV ou Faap. Queríamos fazer uma faculdade com um padrão diferenciado. Como o João Manuel e o Belluzzo são ex-professores da Unicamp, onde fundaram o curso de Economia, decidimos ficar em Campinas".
A universidade nasceu com certas peculiaridades. Português, Inglês e Espanhol, por exemplo, são matérias obrigatórias e reprovatórias. "Vamos até o terceiro ano com Português, pois, segundo os docentes, dominando a língua o aluno fica mais solto e desenvolto", explica Azevedo.
Por enquanto, ele revela, a Facamp ainda não deu retorno do investimento que qualifica de "muito pesado" "Não só em edificações, como também na manu-tenção do corpo docente, mais caro que o de que uma escola de massa". Não por acaso, portanto, a faculdade cobra mensalidades maiores que as outras da região. "Nossa preocupação é obter o retorno num prazo mais longo. Isso para mim é complicado porque como nunca tive nada que não fosse corretora estou acostumado com um retorno ¿seja lucro ou prejuízo ¿ muito rápido. Foi um conflito que tive comigo mesmo, aceitar trabalhar com longo prazo. Como negócio, é rentável. Não tanto como era no passado, mas é rentável, não vou negar. Mas é preciso esperar de sete a oito anos para se recuperar os investimentos".
Segundo Azevedo, a evasão na Facamp é muito baixa e a taxa de inadimplência é de apenas 2%. Hoje são 983 alunos matriculados na graduação, distribuídos por sete cursos: Economia, Administração, Direito, Relações Internacionais, Propaganda e Publicidade, Design e Jornalismo. A meta é atingir no máximo três mil alunos. A primeira turma, formada no ano passado, foi em Economia e Administração. O curso de pós-graduação aceita só 40 alunos. "Fizemos a primeira pós no ano passado na área de economia, sem propaganda, para ver como funciona esse segmento."
O curso mais procurado na Facamp é o de Relações Internacionais. "É onde oferecemos menos vagas e é o mais procurado. Depois vem Administração, Direito e depois Economia. Economia é muito pouco procurado. Se olharmos os dados veremos que se fecham muitas faculdades de Economia no Brasil", diz Azevedo. Segundo ele, Design tem boa procura, suficiente para preencher as 60 vagas oferecidas por ano.
"O que tem menos procura é Jornalismo, porque é uma atividade difícil. Nós só liberamos o estudante para estágio no terceiro ano, por ser uma faculdade em período integral. Como o jornalista hoje não ganha bem, quem entra no curso quer ter um estágio desde o início. Mas há a dificuldade do mercado de trabalho para os jornalistas. Os cursos de maior procura são os que permitem ao interessado ver a possibilidade de conseguir remuneração maior depois da formatura".
O vestibular da Facamp é considerado por Azevedo "pequeno". São preenchidas no máximo 600 vagas por ano. Pelo estatuto da faculdade são permitidos 50 alunos no máximo por sala.