Título: Nível de utilização da capacidade instalada atinge 76% no trimestre
Autor: Luciana Otoni
Fonte: Gazeta Mercantil, 29/10/2004, Industria & Serviço, p. A14

O nível de utilização da capacidade instalada no setor industrial brasileiro atingiu 76% entre julho e setembro deste ano. O percentual, divulgado ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), configurou a maior variação entre dois semestres subseqüentes considerando-se a série histórica dos indicadores industriais iniciada pela entidade em 1998. No grupo das grandes empresas, 42,5% operaram com mais de 90% de uso da capacidade.

Apesar da sistemática elevação no nível de utilização da capacidade instalada, a aproximação do uso máximo das instalações fabris não se apresenta como uma das preocupações centrais dos empresários. Na avaliação deles, não há risco de gargalo na produção e questões como a carga tributária, o encarecimento dos insumos e a alta dos juros são problemas mais relevantes.

"Se houvesse problemas de capacidade, os estoques teriam caído e isso não ocorreu. A produção tem conseguido acompanhar a demanda", disse o economista Renato da Fonseca, coordenador da unidade de pesquisa da CNI. O fato de 42,5% das grandes empresas terem superado o percentual de 90% no nível de utilização pode refletir a maior demanda sazonal de fim de ano.

O indicador de evolução da produção atingiu 60,1 pontos numa escala de zero a 100 entre julho e setembro, a mais alta pontuação da série histórica. A CNI destacou que esse nível de produção indica que não há registro de outro período nos últimos seis anos em que a ampliação da produção industrial de um trimestre para o outro tenha sido tão abrangente. Entre abril e junho, o indicador foi de 55,7 pontos.

No faturamento, o índice ficou em 59,9 pontos, também a maior pontuação da série histórica. Todos os setores pesquisados, exceto o de couros e peles, ultrapassaram os 50 pontos. As indústrias têxtil e de material de transporte registraram 64,5 e 63,6 pontos, respectivamente, os mais elevados desempenhos.

Em termos de lucratividade, o indicador alcançou 43,7 pontos no terceiro trimestre. De acordo com a CNI, apesar de indicar um recuo na lucratividade, essa pontuação foi a maior desde o primeiro trimestre de 2002. No quesito situação financeira, a pontuação ficou em 52,6 pontos, a maior desde o quarto trimestre de 2000.

Oferta recorde de empregos

A oferta de empregos na indústria no período pesquisado também foi a maior registrada desde 1998. O indicador de evolução do número de empregados foi de 55,6 pontos. Nas grandes empresas, o indicador atingiu 59,4 pontos - 10 pontos acima do registrado em igual período de 2003 - e nas pequenas, 53,7 pontos. Os setores que mais abriram postos de trabalho foram o de materiais elétricos e o de materiais de transporte, ambos com 59,1 pontos.

A boa performance do conjunto dos indicadores motivou a CNI a considerar que o desempenho do setor industrial no terceiro trimestre deste ano alcançou níveis "sem precedentes" desde 1998. "O processo de expansão agora atinge todos os setores e está se generalizando", ressaltou Fonseca.

A sondagem, feita com 1.224 empresas de todos os portes, foi concluída em 18 de outubro, um dia antes do aumento da taxa básica de juros (Selic) para 16,75% ao ano. Na enquête, os empresários reafirmaram a confiança na economia brasileira e indicaram que esperam pela continuidade de melhora do ambiente de negócios.