Título: Fogaça busca aliados para secretarias
Autor: Caio Cigana
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/11/2004, Política, p. A8

O prefeito eleito de Porto Alegre, José Fogaça (PPS), disse que vai procurar e convidar todos os partidos que o apoiaram no segundo turno das eleições municipais para participarem de seu futuro governo. Fogaça concorreu coligado apenas com o PTB mas, para construir a vitória de domingo, dando fim a uma hegemonia de 16 anos de administração do PT, recebeu a adesão de PMDB, PDT, PP, PFL e PSDB. "A intenção é conversar o mais rápido possível com todos os partidos que nos apoiaram no segundo turno e, a partir daí, formar o governo.

Fogaça, no entanto, alertou que o apoio dos demais partidos à sua candidatura não deve, necessariamente, transformar-se em cargos. O ex-senador lembrou que, em 2002, nas eleições para o Palácio Piratini, o PPS integrou a frente que levou à vitória do governador Germano Rigotto (PMDB) contra Tarso Genro (PT) no segundo turno, mas depois, mesmo convidado, o partido preferiu não participar da administração estadual. Segundo Fogaça, cada secretário terá de ter "reputação ilibada, qualidade técnica e experiência política". O prefeito eleito do PPS não disse se chamaria o PT para fazer parte de seu governo.

Mas essa montagem será democrática e transparente", prometeu Fogaça, que venceu o petista Raul Pont com 51,24% dos votos, uma vantagem de 7 pontos percentuais equivalente a 53 mil votos, uma margem considerada surpreendente. Na Câmara Municipal de Porto Alegre, o futuro prefeito contará com o apoio de 23 dos 36 vereadores eleitos.

Para evitar o quinto mandato consecutivo do PT na capital gaúcha, Fogaça seguiu uma estratégia diferente. Optou por deixar de lado as posições adotadas por candidatos de oposição em eleições anteriores, quando a principal marca dos adversários do Partido dos Trabalhadores era uma postura anti-PT explícita, criticando todas realizações e políticas da prefeitura. Fogaça, ao contrário, adotou o slogan manter o que está bom, mudar o que é preciso, reconhecendo avanços e propondo mudanças pontuais, mas nada de forma brusca. Com isso, conquistou no primeiro turno o voto dos eleitores sem partido e, no segundo, o da parte da população mais crítica em relação às administrações petistas ou de campos ideológicos contrários, representadas pelas candidaturas de oposição.

Como exemplo do que deveria ter continuidade Fogaça citava principalmente o Orçamento Participativo (OP), maior bandeira do PT mas alvo de ataques severos da oposição nas últimas eleições. As alterações prioritárias, aponta Fogaça, devem ser feitas nas áreas da Saúde, Segurança e nas políticas de proteção à infância e adolescência, na tentativa de diminuir o número de crianças de rua. Na Saúde, ponto que concentrou as maiores críticas da coligação vencedora, "a questão essencial é a qualidade da gestão", avalia Fogaça, que identificava um crescimento da burocratização do atendimento durante as sucessivas administrações petistas na capital gaúcha.

Reflexão petista

A cúpula do PT do Rio Grande do Sul parte agora para uma reflexão das causas da amarga derrota no segundo turno das eleições municipais do estado. Além de Porto Alegre, a sigla perdeu o pleito em Caxias do Sul, onde governava há oito anos com Pepe Vargas, e em Pelotas, cidade onde o prefeito Fernando Marroni buscava a reeleição. Em Caxias do Sul, apesar de a administração petista ter uma aprovação de quase 90% da população, o deputado federal José Ivo Sartori (PMDB) bateu Marisa Formolo (PT), um resultado que também fortalece o governador Rigotto, que é da cidade. Em Pelotas, a derrota foi para o deputado estadual Bernardo de Souza, do PPS, mesmo partido de Fogaça. O revés eleitoral do PT gaúcho pode ser melhor avaliado se for lembrado que, há apenas dois anos, o partido chegou a comandar simultaneamente o governo do estado, a capital e as três maiores cidades do Rio Grande do Sul, Caxias e Pelotas. Em Canoas, o quarto município com votantes suficientes para ter segundo turno, a derrota ocorreu ainda no dia 3 de outubro -e para o tucano, que foi reeleito Marcos Ronchetti.

Raul Pont, prefeito de Porto Alegre entre 1997 e 2000, preferiu não falar sobre as possíveis causas da derrota. No domingo à noite, rodeado pelos quatro ministros gaúchos, Pont preferiu falar sobre o projeto nacional do partido e, em relação a Porto Alegre, limitou-se a dizer que as quatro administrações petistas na cidade consolidaram uma experiência que dificilmente será esquecida.