Título: Diálogo para acelerar reformas
Autor: José Antônio Severo
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/11/2004, Política, p. A8

Os pleitos, especialmente onde houve segundo turno, revelaram uma clara polarização entre PT e PSDB, que saem da eleição como os dois grandes partidos nacionais. A seu redor formaram-se as coligações, definindo os dois grandes campos que estarão compondo as alianças nos estados para as eleições de governador, em 2006. De um lado está a vertente originária do antigo MDB; de outro os herdeiros da corrente revolucionária dos anos 70, liderada pelo PT. No meio ficam os remanescentes do antigo conservadorismo, sem poder de comando na formação das grandes alianças nacionais, embora possam se colocar nos segundos turnos estaduais, em 2006.

Para presidente, o quadro será diferente, centralizando-se nas figuras dos dois principais líderes paulistas do momento, o presidente da República e o governador do Estado, Geraldo Alckmin.

A evolução, daqui em diante, deste processo de formação das alianças para a eleição presidencial será mais importante para o desempenho imediato dos partidos no quadro político nacional do que os resultados das eleições municipais deste domingo. O presidente Lula tem pressa de acionar sua base aliada para votar as reformas, antes que o futuro contamine seu amplo leque de apoio no Congresso, dificultando a coesão da base aliada.

Os primeiros sinais dessas fissuras prováveis já estão no ar. A mais próxima pode sair da reunião do PMDB, dia 10 próximo, quando esse partido examinar propostas de retirar-se do governo, embora não cogite de abandonar sua participação na base aliada no Congresso. Esse seria um passo para mudança de rumo dos peemedebistas, como explica o senador Pedro Simon (PMDB-RS): "O partido se divide em três fatias: 5% querem uma candidatura própria, 45% querem uma aliança com o PSDB e 55% querem aliar-se ao PT, em 2006". Dentre os defensores da candidatura própria estão os gaúchos, que oferecem o nome de seu governador, Germano Rigotto, para ser a "zebra" entre Alckmin e Lula na eleição presidencial.

O futuro imediato, no espaço partidário, apresenta um grande desafio às lideranças, para construir uma obra de engenharia política que se componha uniformemente em todo o País. Caso persista a legislação de verticalização das coligações, predominando as nacionais sobre as estaduais, a possibilidade é que o primeiro turno tenha mais de uma dezena de candidatos, tanto nacionais como nos estados, para que os partidos tenham condições de eleger suas bancadas nos parlamentos. No entanto, os meios políticos já trabalham numa legislação para liberar composições locais nos estados. Seja como for, a coincidência de mandatos, embolando as duas eleições num mesmo dia, será um complicador, a ser removido a tempo .