Título: Duplo déficit desafia o novo governo dos EUA
Autor: Claudia Mancini
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/11/2004, Internacional, p. A11

Conjuntura condiciona a ação de Bush e Kerry. O vencedor da eleição para presidente dos Estados Unidos vai ganhar, por tabela, o desafio de lidar com os déficits fiscal recorde (de US$ 412 bilhões no ano fiscal de 2004, ou 3,5% do PIB) e o da conta corrente (US$ 640 bilhões, ou 5,5% do PIB). Economistas afirmam ser difícil prever quando e como os ajustes nessas contas acontecerão, o que em algum momento será necessário. Mas, pelo tamanho do problema, podem ocorrer logo no começo da próxima administração.

Muito possivelmente os mercados emergentes, como o Brasil, serão atingidos por uma correção no cenário atual, que pode passar por um aumento da taxa de juros norte-americana e por uma retração no consumo interno do país. A intensidade do impacto também dependerá de como as mudanças de rota serão feitas. O que praticamente ninguém acredita é que o governo force uma forte recessão para atacar o duplo déficit.

A dificuldade para prever o que acontecerá está, em parte, no fato de que o presidente George W. Bush e o senador democrata John Kerry evitaram falar em detalhes durante a campanha sobre como resolverão esses problemas. O que apresentaram como solução não convenceu os economistas. As contas, dizem, não fecham. Há também um fator importante: boa parte da solução foge do controle dos americanos, estando, por exemplo, nas mãos de governos asiáticos como China, Japão, Taiwan e Coréia. É que os governos da Ásia financiam 50% do déficit na conta corrente, por meio de compra de títulos americanos, afirma Lee Price, diretor de Pesquisa do Economic Policy Institute (EPI), instituição não partidária de Washington.

Os dois candidatos prometeram reduzir pela metade o déficit fiscal em quatro anos. Para vários economistas, isto seria até possível, mas é improvável.