Título: Empresas siderúrgicas da América Latina discutem futuro do setor
Autor: Gustavo Viana
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/11/2004, Indústria & Serviços, p. A13

Ainda sob os efeitos da formação da Mittal, maior siderúrgica mundial, executivos da indústria siderúrgica com negócios da América Latina se encontraram no Congresso Latino-Americano de Siderurgia, evento organizado pelo Instituto Latinoamericano del Fierro y el Acero (Ilafa) para discutir o futuro das empresas do setor. A onda de consolidação da siderurgia global, com fusões, aquisições e alianças e seus desdobra-mentos na região foi um dos assuntos mais debatidos nos bastidores do evento, realizado em Buenos Aires entre os dias 31 de outubro e 02 de novembro.

Segundo o presidente do grupo Gerdau, Jorge Gerdau Johannpeter, a consolidação da industria siderúrgica mundial não è tão necessária para resolver os problemas sociais e econômicos da América Latina. Ele disse que a consolidação ocorre em países com problemas em sua siderurgia, como nos EUA e Europa, que possuem usinas obsoletas e custos de produção elevados.

"No futuro restarão três ou quatro lugares no mundo com siderurgia forte, em locais próximos a produção de minério de ferro, já que os custos logísticos são cada vez mais importantes", disse Johannpeter. O executivo acredita que países como o Brasil, a Austrália e a Rússia deverão substituir tradicionais países nessa indústria e se tornarão protagonistas no cenário internacional. Para Johannpeter, o Brasil e a Venezuela são os países com o melhor potencial siderúrgico na região, por contar com minério de ferro.

A América Latina detém 6% da produção mundial de aço, o Brasil é responsável pela metade desse volume. Em 2003, a produção atingiu 56 milhões de toneladas. "As empresas precisam ser mais fortes financeiramente para ocupar espaço na região. Se não fizermos isso, alguém de fora o fará", disse Johannpeter.

Segundo o executivo, para competir internacionalmente, o Brasil não precisa seguir essa consolidação, já que está em um momento muito bom, mas se quiser dar passos significativos existem dois caminhos, ou se fortalecem financeiramente pelo mercado de capital ou se juntam para tornarem-se fortes internacionalmente. Johannpeter anunciou que a Gerdau planeja ampliar a capacidade de produção da Sipar Laminación de Aceros, na qual detém 38,2% de participação, para atender a demanda argentina.

Para o vice-presidente executivo da Gerdau, Osvaldo Shirmer, um patamar seguro para a sobrevivência das siderúrgicas daqui a alguns anos seria de cerca de 20 milhões de toneladas anuais. O grupo tem 16 milhões e estuda aquisições nas américas. "Os países da região planejam aumentar sua capacidade em 50 milhões de toneladas nos próximos 10 anos", disse Paulo Rocca, presidente da Techint, um dos maiores grupos siderúrgicos argentinos. Este ano, a produção deverá chegar a 64 milhões de toneladas. Para Rocco, a consolidação das siderúrgicas poderá gerar maior estabilidade para as empresas da região. O executivo cita o exemplo do grupo ítalo-argentino Tenaris, de tubos de aço soldados e equipamentos, que unificou siderúrgicas de sete países.

A industria siderúrgica brasileira planeja investir cerca de US$ 7 bilhões para ampliar das atuais 34 milhões para 44 milhões de toneladas a capacidade de produção, até 2008. Segundo o presidente da Arcelor, Guy Dollé, em dez anos restarão entre cinco e seis grandes grupos siderúrgicos no mundo e a Arcelor será uma das líderes do processo de consolidação. O movimento de consolidação cria um desserviço para o Brasil. "O País está preparado para atender o mercado interno e ser um grande exportador", disse o presidente do Instituto Brasileiro de Siderurgia ( IBS), Marco Pólo de Mello Lopes. Segundo José Armando de Figueiredo Campos, presidente da Companhia Siderúrgica de Tubarão CST, o movimento de consolidação é uma tendência inexorável e a criação da Mittal só reforça isso. Para Rinaldo de Campos Soares, presidente do Sistema Usiminas , em cinco ou dez anos as poucas empresas consolidadas restantes terão cerca de 30 milhões de toneladas de capacidade de produção.

"A consolidação é importante na medida que proporciona sinergias para enfrentar os grandes clientes que fazem pressão no sentido contrário", disse Soares. "Mas o mais importante é verificar se os resultados dessa consolidação são os esperados. As consolidações que ocorreram não levaram a uma grande criação de valor para os acionistas. De 1995 a 2004, a média da industria siderúrgica não criou valor", afirmou Soares, que não acredita que a Usiminas possa fazer parte de um grupo estrangeiro. Soares considera positivo o projeto do BNDES de concentrar as siderúrgicas brasileiras em uma única empresa.

"A consolidação é importante. Se o Brasil ao invés de vender minério e ferro vendesse carvão seria muito melhor", disse Omar Silva Júnior, presidente da Cosipa, empresa do Sistema Usiminas.