Título: Brasil acerta com China posição para a COP-10
Autor: Gisele Teixeira
Fonte: Gazeta Mercantil, 24/08/2004, Meio Ambiente, p. A-9

O Brasil e a China querem fechar uma posição conjunta para a 10 Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-10) que será realizada de 6 a 17 de dezembro deste ano, em Buenos Aires. Os dois países estão preocupados com o futuro do regime internacional sobre mudança do clima, no atual contexto de incertezas sobre a entrada em vigor do Protocolo de Quioto.

O assunto foi um dos temas da primeira reunião da agenda comum sobre desenvolvimento sustentável entre os dois países. "Foi um encontro político", disse uma das fontes do Itamaraty. As delegações do Brasil e da China foram chefiadas, respectivamente, pelo diretor do departamento de meio ambiente e temas especiais do Ministério das Relações Exteriores, ministro Everton Vieira Vargas, e pelo vice-diretor geral do departamento de tratados e leis do Ministério das Relações Exteriores da China, embaixador Gao Feng.

Embora a China não seja nenhum modelo em desenvolvimento sustentável, o país se uniu ao Brasil nesta briga por ambos terem dimensões geográficas e grau de desenvolvimento tecnológico e industrial semelhantes, características que os aproximam também em suas respectivas atuações e objetivos no contexto do Regime Internacional sobre Mudança do Clima. "Essa convergência de interesses também se traduz em um diálogo cada vez mais estreito no contexto bilateral, como evidenciado pela reunião de Brasília, e na busca de ações conjuntas para a cooperação em áreas de interesse mútuo, como adaptação à mudança do clima", destacou o Itamaraty.

Há um entendimento por parte do governo brasileiro de que, embora a China tenha um passado de desrespeito ao meio ambiente, o país não pode ser considerado um vilão neste quesito. "Não sei se seria justo singularizar a China", disse um dos secretários que participou do encontro.

Energias mais limpas

Há sinais, pelo menos, de que os chineses querem escrever um futuro um pouco menos perverso. Na última Conferência Mundial sobre Energia Renovável, realizada em Bonn, na Alemanha, em junho passado, a China anunciou sua disposição de alinhar-se às nações que querem promover, com fundos estatais, o desenvolvimento de energias limpas.

A decisão do país é atingir, no ano de 2020, uma fração de 10% de certas energias renováveis (pequenas usinas hidrelétricas, biomassa e energia eólica). A preocupação é econômica, porque a China ainda vai continuar dependendo, a longo prazo, dos combustíveis fósseis. Em nenhum outro país do planeta cresce tão rápido o consumo de energia como na China, e as autoridades estão bastante preocupadas com a possibilidade de uma situação de emergência. Cresce ainda a incerteza quanto aos possíveis aumentos de preços desses combustíveis, como o carvão mineral, utilizado em larga escala.

A partir de hoje, a delegação chinesa cumprirá um extenso programa de visitas a instituições brasileiras associadas ao tratamento da questão da mudança do clima, em Brasília e São Paulo. Estão na lista o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTec).