Título: Estudo do BID mostra potencial de atração de investimentos na AL
Autor: Cristina Rios
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/11/2004, Indústria & Serviços, p. A14

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) conclui até o final do ano um estudo pioneiro sobre o setor de base florestal na América Latina e no Caribe que vai estabelecer, a partir de 2004, um ranking anual sobre o potencial de atração de investimentos diretos nos segmentos de papel e celulose e de madeira entre os países da região. "Será o primeiro índice em nível mundial a monitorar o nível de atratividade do setor na região para os investidores", disse Marco Tuoto, gerente de unidade de negócios da STCP Engenharia e Projetos, consultoria contratada pelo BID para elaborar o estudo.

O levantamento, que começou a ser realizado no final do ano passado, aponta uma forte concentração dos investimentos do setor nos países que compõem o Cone Sul, com destaque para Brasil, Uruguai e Chile. O Brasil lidera em investimentos programados, com um total de US$ 20 bilhões até 2010 (US$ 14 bilhões para os segmentos de papel e celulose e US$ 6 bilhões para a área de madeira), com destaque para a região Sul. O Chile fica em segundo lugar, com US$ 4 bilhões, e o Uruguai vem em seguida, com US$ 2 bilhões. "Há um sinal claro de deslocamento geográfico desses investimentos, antes dispersos entre vários países, para essa região", afirmou Tuoto.

Segundo ele, essa nova distribuição dos investimentos deve-se, principalmente, à existência de terras adequadas ao plantio, ao bom volume de florestas plantadas e às boas condições de aplicação de leis e segurança jurídica para o investidor.

No estudo, a Argentina também aparece como um forte receptor de investimentos do setor - US$ 3 bilhões entre 1997 e 2001- mas o fluxo de aportes foi interrompido pela crise econômica. "A maioria dos investidores adiou ou transferiu seus projetos para outras regiões", disse Tuoto.

Setor movimenta US$ 145 bi

A América Latina e o Caribe respondem atualmente por 8% dos negócios mundiais do setor de base florestal, que movimenta por ano cerca de US$ 145 bilhões. A participação do Brasil vem crescendo de maneira expressiva, alavancada, principalmente, pela indústria de produtos de madeira sólida, na qual o compensado tem ocupado posição de destaque. No início da década de1990, a presença brasileira no comércio internacional de produtos florestais não ultrapassava 2%. A projeção para 2004 é encerrar com 4% de participação.

Com exportações de US$ 5,5 bilhões no ano passado, o setor já responde por 20% do superávit na balança comercial brasileira e emprega 6,5 milhões de pessoas dentro da cadeia produtiva, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (ABIMCI).

Apesar desse desempenho, o Brasil ainda apresenta problemas que podem comprometer a manutenção dos patamares de exportações, segundo o estudo. A possibilidade de falta de matéria-prima para a indústria nos próximos anos e a precária infra-estrutura portuária estão entre as principais ameaças à competitividade brasileira.

Esses fatores também podem influenciar o grau de atratividade do Brasil para receber investimentos diretos no setor florestal. O índice de atratividade ao investimento florestal (IAIF), que deve ser divulgado oficialmente até o final do ano pelo BID, vai estabelecer uma pontuação de 0 a 100 entre os países, considerando tanto fatores diretamente ligados ao setor como dados macroeconômicos de cada um.

Entre os dados extra-setoriais analisados estão níveis de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), taxas de juros, comércio internacional, carga tributária, infra-estrutura e estabilidade política. Em um segundo momento, com uma ponderação maior, serão levados em conta os fatores intra-setoriais, como disponibilidade de recursos naturais, produtividade, marco legal e custo das transações florestais no país, tamanho do mercado potencial, subsídios, pesquisa, educação e mão-de-obra disponível.

Pesquisa com 300 empresas

O levantamento também vai levar em conta uma pesquisa com um universo de 300 empresas com estudos de caso em quatro países: Brasil, Chile, Costa Rica e Honduras. "Um dos objetivos é evidenciar os gargalos dos negócios florestais em cada país", disse Tuoto. Estão sendo ouvidos investidores, empresas privadas, organizações não-governamentais e também o setor público. Este último tanto pode funcionar como um facilitador ou inibidor dos investimentos, segundo o consultor.

A última etapa do projeto será a criação de um website onde o investidor poderá fazer simulações de projetos nos países de acordo com seus interesses. "A idéia é que o investidor possa interagir com os dados do relatório, fazendo suas próprias ponderações de acordo com suas necessidades", explicou o gerente da STCP.