Título: Cotonicultor quer regular mercado
Autor: Neila Baldi
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/11/2004, Agribusiness, p. B12

Com os baixos preços do produto, setor pensa em criar companhia de comercialização. Cotonicultores querem criar a Companhia de Comercialização de Algodão para intervir no mercado quando o preço do produto estiver abaixo do mínimo de garantia, como ocorre atualmente. Segundo analistas, a necessidade de cumprir compromissos está fazendo com que os cotonicultores coloquem o produto no mercado em um momento em que a indústria não está dando vencimento à oferta. Por isso, o setor busca alternativas de venda e solicita medidas de apoio por parte do governo, que pode lançar leilões de Prêmio de Escoamento de Produto (PEP) para sustentar as cotações.

Segundo Hélio Tolini, diretor-executivo da Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa), a proposta é que o setor privado se una para criar a empresa que irá comprar, vender ou exportar o algodão nos momentos em que os produtores acharem mais conveniente, funcionamento de uma forma parecida como o governo intervém - que retira o produto do mercado quando os preços estão aviltados. Tolini explica que o assunto ainda está sendo discutido pela cadeia produtiva, mas a idéia é englobar qualquer empresário - cotonicultor, industrial ou outro interessado no assunto -, que aportaria os recursos a serem utilizados posteriormente nos momentos de necessidade de intervenção. A ação é bem vista pelo governo, que nos últimos anos não tem recursos para apoiar a comercialização das safras.

Custo acima da cotação

De acordo com levantamento de consultorias, o valor pago ao produtor está variando entre R$ 1,32 a R$ 1,35 a libra-peso, em São Paulo, enquanto o preço mínimo de garantia é de R$ 1,35 a libra-peso. Miguel Biegai Júnior, consultor da Safras & Mercado, diz que em algumas regiões, o custo de produção está acima da cotação de mercado. "Há muita oferta, a indústria não consegue absorver e o mercado internacional também está em queda", avalia.

De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) , a produção atual de algodão é de 1,2 milhão de toneladas de plumas ante às 847 mil toneladas da safra anterior (alta de 50,1%). Ao contrário do ano passado, no entanto, as exportações e vendas antecipadas estão mais lentas. Em outubro do ano passado, o volume de venda externa contratada era de 350 mil toneladas, enquanto neste ano é de 200 mil toneladas.

"Os preços baixos são reflexo da necessidade de o produtor fazer caixa para pagar compromissos a vencer desta e da próxima safra", afirma Maria Cristina Afonso, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP). Por isso, uma das medidas solicitadas pelo setor é o alongamento do crédito de custeio.

Diante de um quadro pessimista, o governo está avaliando medidas. A Abrapa solicitou a realização de leilões de Prêmio de Escoamento de Produto (PEP) para as 320 mil toneladas da safra atual que ainda não foram comercializadas, além de Aquisições do Governo Federal (AGFs) e a agilidade nos trâmites burocráticos para que possam ser feitos os contratos de opção privados. "Estamos preocupados com a comercialização da safra como um todo", afirma o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Segundo ele, esta semana, governo e iniciativa privada se reúnem para discutir o apoio à comercialização. Ele garante que as medidas dependerão do orçamento, que está em discussão no Congresso Nacional.

Tolini acredita que serão necessárias medidas para a atual safra e também para a futura, cuja tendência, segundo a Conab, é de alta de até 8,7% na área cultivada.

Indústria

Este ano, a indústria espera crescer 7%. Apenas o consumo deve passar de 700 mil toneladas de pluma para 850 mil toneladas de pluma (21%). No entanto, essa reação começou a ocorrer a partir do segundo semestre deste ano. "Se tivesse sido forte desde janeiro, teríamos outro cenário de preços", avalia Biegai Júnior.

Para Rossildo Faria, diretor de operação da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), o aumento do consumo é decorrente de um crescimento na renda e das exportações. Até o final de setembro, as vendas externas haviam aumentado 26%, chegando a US$ 1,44 bilhão. Faria afirma que este crescimento ocorreu porque o Brasil está exportando mais produtos de valor agregado e a associação tem um programa que visa ampliar os mercados. A expectativa é que, no final do ano, as exportações fechem em US$ 2 bilhões.

Com o aumento do consumo, houve recuperação na capacidade produtiva do setor. No início do ano a capacidade de produção do setor estava 75% e atualmente beira os 90%. Em virtude disso, Faria admite gargalos em alguns segmentos, ou seja, muitas indústrias não estão dando vencimento à demanda.