Título: Decisão rápida teve efeitos positivos
Autor: Claudia Mancini
Fonte: Gazeta Mercantil, 04/11/2004, Internacional, p. A9

George W. Bush, presidente dos Estados Unidos, garantiu mais quatros anos no comando da maior economia do mundo, após o candidato democrata John Kerry admitir que perdeu a eleição e, portanto, sem haver sinais de contestação judicial - ao contrário do que muitos temiam e do que ocorreu na eleição de 2000. A rápida definição do vencedor - ao contrario da demora de semanas vista quatro anos atrás ¿ teve efeitos positivos durante o dia na bolsa de Nova York, especialmente em empresas de áreas que podem ser beneficiadas por seu governo, como as farmacêuticas e de petróleo. Mas durante o dia houve também queda dos títulos do Tesouro, e houve mais especulações de que os cortes de impostos feitos nos últimos anos, que elevaram o déficit fiscal, levarão o governo a aumentar seu apetite por empréstimos.

Até o final da tarde de ontem em Washington, com 99% da apuração realizada, Bush havia conseguido 51% dos votos. Kerry tinha 48% e Ralph Nader 1%. Bush foi o primeiro presidente, desde seu pai, a ganhar uma eleição com mais de 50% dos votos. Mas o que contou mesmo foi Kerry ter admitido, no final da manha, que os republicanos venceram em Ohio. Com isso, os republicanos garantiram os 20 votos que o Estado tem no Colégio Eleitoral, formado por 538 assentos e que em dezembro confirma quem será o presidente. Quem consegue pelo menos 270, leva a presidência. Bush conseguiu pelo menos 274 e legitima seu poder, uma vez que a eleição de 2000 foi ganha na Suprema Corte, por 5 votos a 4.

"Um novo mandato é uma nova oportunidade para atingir a toda a nação", afirmou Bush. E completou, dizendo que "para fazer essa nação mais forte e melhor, vou precisar de seu apoio (de quem não votou nele), e vou trabalhar para conseguir isso". Ao anunciar que reconhecia a vitoria de Bush, - o que o perdedor tradicionalmente faz antes de o vencedor falar - Kerry disse que "não desistiria essa luta se houvesse alguma chance de vencermos". E completou: "agora está claro que, mesmo quando todos os votos provisórios forem contados, não haverá votos suficientes para vencermos em Ohio". Naquele Estado, os votos provisórios, cuja validade precisa ser confirmada, é que fariam a diferença, dada a disputa apertada. No final da manhã, Kerry ligou para Bush, que estava no Salão Oval. Falou a ele da necessidade dos dois partidos juntarem forcas agora.

No Congresso, os republicanos aumentaram sua participação no Senado (55) e na Câmara de Representantes (231). Segundo Joel Velasco, vicepresidente da consultoria Stonebridge International, para um partido ser um rolo compressor no Senado precisaria ter "o numero mágico" de 60 assentos.

Nas ultimas dez eleições presidenciais, 7 foram vencidas pelos republicanos, mais conservadores. Para Velasco, a eleição desta semana foi guiada por valores morais. "E os republicanos usaram isso de uma forma extraordinária". Segundo ele, o partido de Bush conseguiu também ativar mais sua base para irem votar do que os democratas. Muitos analistas dizem que a vitória de Bush se deu porque o presidente conseguiu passar confianca aos eleitores de que pode resolver os problemas, em especial o do terrorismo, e que isso faz diferenca para o americano. Guerra do Iraque e combate ao terrorismo são questões separadas, mas Bush misturou os dois, pois a primeira é vista de forma negativa. Parece que deu certo. Uma das preocupações do partido de Kerry agora é a importância do voto dos jovens, que em boa parte votaram no candidato. Com a derrota de Kerry, especula-se que na disputa de 2008, com Hillary Clinton, o partido tem mais chances de disputar.

Pela frente, Bush terá vários desafios, muitos criados na sua própria administração, e não herança de outros candidatos. Entre eles os deficits fiscal (US$ 412 bilhões em 2004) e de conta corrente (US$ 640 bilhões). Segundo analistas, é difícil saber quando e como o ajuste começará, mas pelo que representa, deve começar em algum momento. Há ainda um problema relacionado ao aumento de custos do sistema de saúde. E dos empregos. Há cerca de 1 milhão de empregos a menos, comparado ao inicio da era Bush. Ele venceu em Ohio, que perdeu mais de 250 mil empregos nesse período, segundo Velasco.