Título: Aécio dá início ao ataque oposicionista
Autor: Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 07/04/2011, Política, p. 2

A cinco dias de a presidente Dilma Rousseff completar 100 dias no governo, o senador Aécio Neves ocupou ontem a tribuna do plenário das 15h40 às 20h22 para fazer um discurso duro, mas ¿elegante¿, segundo a base governista. O parlamentar mineiro assumiu a voz da oposição e desfiou um histórico de críticas ao PT, ao governo Luiz Inácio Lula da Silva e às movimentações iniciais da presidente.

Em seu primeiro discurso político desde que tomou posse no Senado, Aécio atacou a omissão do PT em momentos considerados cruciais para a democracia ¿ a época em que o PT era oposição ¿ e estendeu aos ex-presidentes Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso conquistas que Lula atribuiu a seus oito anos de gestão. O mineiro citou programas sociais como o Bolsa Escola, Bolsa Alimentação e Auxílio Gás para questionar a paternidade exclusiva do carro-chefe da gestão petista, o Bolsa Família. ¿O Brasil de hoje é resultado de uma vigorosa construção coletiva que, desde os primeiros sopros da nacionalidade, vem ganhando dimensão, substância e densidade. Ao contrário do que alguns nos querem fazer crer, o país não nasceu ontem.¿

Aécio citou fases do período de redemocratização e de crise, como o governo Itamar Franco, inaugurado após um processo de impeachment do presidente eleito Fernando Collor, para lembrar que o PT optou pela oposição em vez de formar uma coalizão pelo país. ¿Sempre que precisou escolher entre os interesses do Brasil e a conveniência do partido, o PT escolheu o PT.¿

Mas as críticas de Aécio não se limitaram ao plano partidário. Ponderações sobre a montagem da estrutura do governo, com o que chamou de ¿grave aparelhamento e inchaço do Estado¿, também deram o tom da inauguração de seu posicionamento de oposição no Congresso. Os governos Lula e Dilma foram alvejados. O anúncio de cortes às pressas no Orçamento representam, segundo o ex-governador de Minas Gerais, o ¿não cumprimento de compromissos¿ assumidos com a população e decorrem de irresponsabilidade nos gastos públicos. ¿Vemos, infelizmente, renascer, da farra da gastança descontrolada dos últimos anos, e em especial do ano eleitoral, a crônica e grave doença da inflação.¿

Interferência na Vale A polêmica da interferência do ministro da Fazenda, Guido Mantega, na troca de presidência da mineradora Vale, já no governo Dilma, também estava no cerne do discurso. ¿Não posso crer que seja interesse do país que o governismo avance sobre empresas privadas, com o objetivo de atrelá-las às suas conveniências, como se faz agora, sem nenhum constrangimento, com a Vale, criando perigoso precedente¿, criticou.

Além dos ataques ao governo, Aécio elogiou o DEM e o PPS pela ¿coragem¿ e conclamou a oposição a atuar com um discurso voltado para o futuro, para o confronto com o governo, e não somente de comparação com o passado. O parlamentar apresentou roteiro de prioridades do mandato, entre elas, o resgate da justiça federativa, provocando debate para melhor distribuição de recursos entre estados e prefeituras. O ex-governador de Minas Gerais propôs que 70% do Fundo Nacional de Segurança Pública e do Fundo Penitenciário, que geralmente sofre contingenciamento, sejam repartido entre os estados. Propostas como plano de investimentos públicos para empresas de saneamento e isenção do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) na conta de luz de famílias de baixa renda também foram apresentadas no discurso.

Os tucanos, entre eles o ex-governador de São Paulo José Serra, receberam o discurso de Aécio como uma forma de reavivar a atuação da oposição na Casa. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) afirmou que o pronunciamento teve o papel de trazer os parlamentares de volta para o plenário. ¿O discurso mobiliza forças políticas díspares e promove o debate que tem por objetivo o futuro deste país, portanto, plenariza¿. A senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO) conclamou a união da bancada. ¿Tenho certeza de que o PSDB será um partido forte, apesar do número pequeno da nossa bancada.¿

Principais pontos

Confira os assuntos defendidos pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG)

Valorização do Parlamento Aécio cobrou o resgate da autonomia do Congresso perante o Executivo, pregando que os parlamentares tenham em mente que tanto a Câmara quanto o Senado devem se dirigir prioritariamente ao povo brasileiro, e não ficar refém dos outros poderes.

Participação do PT em momentos decisivos O parlamentar mineiro acusou o PT de ter se omitido em momentos chave da democracia brasileira e citou os governos de José Sarney e Itamar Franco como episódios em que o país precisou se unir para superar problemas.

Área social Programas sociais como o Bolsa Escola, Bolsa Alimentação e Auxílio Gás foram citados como embriões do Bolsa Família. Aécio também afirmou que, no futuro, os historiadores considerarão os governos Itamar, Fernando Henrique Cardoso e de Luiz Inácio Lula da Silva como uma única faixa na história, representando ruptura que promoveu o crescimento do país.

Aparelhamento estatal Aécio bateu forte no governo ao criticar o inchaço do Estado e citar a desindustrialização de setores da economia. O senador dedicou tempo especial do discurso para falar sobre o que chamou de ¿farra da gastança descontrolada¿ no último governo.

Saneamento e energia elétrica Em defesa de gestores estaduais e municipais, Aécio defendeu discussão do pacto federativo para melhorar a distribuição de receitas. O discurso do parlamentar também contemplou os consumidores de água e luz. O senador mineiro defendeu políticas de desoneração para proporcionar serviços de qualidade e preços menores.