Título: Moinhos buscam isenção de imposto
Autor: Alexandre Inacio
Fonte: Gazeta Mercantil, 04/11/2004, Agribusiness, p. B12

Congresso vota na próxima semana MP que elimina PIS/Cofins da farinha, massas e pães. As indústrias de trigo aguardam ansiosas pelo resultado da votação do Congresso da Medida Provisória (MP) 202. Isso porque o documento trata, entre outros assuntos, da eliminação da alíquota do PIS/Cofins, de 9,25%, que incide sobre os derivados do trigo. "Acreditamos que com isenção do PIS/Cofins os preços da farinha de trigo serão reduzidos entre 7% e 8% para os moinhos das regiões Sul e Sudeste e 12,5% para as indústrias do Norte e Nordeste do País", afirma Samuel Hosken, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Trigo (Abitrigo).

Redução de preços

No mercado interno, o preço médio do saco de 50 quilos de farinha de trigo é cotado em R$ 45. No caso de isenção dos impostos, o produto poderia chegar a R$ 41,4 o saco. "Com a redução dos preços se pode esperar um aumento na demanda da ordem de 5%", afirma Lawrence Pih, presidente do Moinho Pacífico.

Mais do que um interesse econômico, a eliminação dos impostos pode representar para os moinhos uma recuperação na competitividade no mercado interno. Os derivados do trigo perderam espaço nesse ano quando o governo decidiu isentar do PIS/Cofins produtos básicos, como o arroz, o feijão e a farinha de mandioca.

Produto básico

"A farinha de mandioca não é tão representativa como a de trigo, que assim como o arroz e feijão também é um produto de consumo básico, pois está no pão, no macarrão e outros produtos de consumo diário na mesa dos brasileiros", diz Hosken.

Independente da redução de preços que a isenção das tarifas pode gerar, as cotações da farinha de trigo já estão em trajetória descendente desde o primeiro semestre deste ano. Entre o final de março e o começo de novembro, os preços já caíram 15%. "Isso está acontecendo por causa da queda das cotações do grão de trigo no mercado internacional, que também está em baixa", afirma Pih.

De acordo com o presidente do Pacífico, entre o final de março e o início de abril, o preço médio da farinha para o mercado interno era de R$ 53. "Nesse período, o trigo da Argentina, nosso maior fornecedor, custava para nós US$ 180, mas, hoje em dia, esse valor gira ao redor de US$ 120", diz.

Na bolsa de Chicago, os preços do trigo recuaram de US$ 139 a tonelada em dezembro de 2003 para US$ 115,5, no fechamento de ontem. O movimento representa uma queda de 20,3% no acumulado de 2004. De abril de até novembro, no entanto, a retração é ainda mais acentuada, de 32,3%, com a tonelada do trigo sendo vendida a US$ 152,76 em abril deste ano.

A forte queda registrada nos preços do trigo são motivadas pelo aumento da oferta do grão no cenário mundial e no próprio mercado interno. O Brasil está colhendo uma das suas maiores safras de trigo já registrada. O governo prevê que a colheita atinja 6,1 milhões de toneladas, ou seja, mais de 60% da demanda anual do país. O mercado, no entanto, estima que a safra nacional fique ao redor de 5,8 milhões de toneladas.

Safra argentina

Além da grande safra brasileira, a Argentina também revisou para cima sua estimativa de produção. O vizinho do Mercosul previa uma colheita de 14 milhões de toneladas, mas, em recente levantamento, o governo argentino já prevê uma safra de 15,5 milhões de toneladas. O último relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estimou uma produção mundial de 615,84 milhões de toneladas de trigo para a safra 2004/05. O volume representa um aumento de 11,6% em comparação com a safra 2003/04.

Dada a queda nos preços, o Ministério da Agricultura anunciou em setembro um plano de apoio à comercialização de trigo. O programa prevê apoio para 1,6 milhão de toneladas, entre leilões de contratos de opção, Aquisições do Governo Federal (AGF) e Prêmio de Escoamento do Produto (PEP).