Título: Livro aponta Luthero Vargas como o mandante do crime
Autor: José Antônio Severo
Fonte: Gazeta Mercantil, 24/08/2004, Gazeta do Brasil, p. B-13

O motivo que foi a gota d¿água que precipitou o suicídio do então presidente Getúlio Vargas, a 24 de agosto de 1954, será revelado hoje no lançamento do romance histórico "Getúlio", do autor gaúcho Juremir Machado da Silva, em Porto Alegre. Segundo apurou o autor, o presidente da República tomou conhecimento, ao alvorecer daquela terça feira, que o mandante do Crime da Rua Toneleros seria seu filho Luthero Vargas, para impedir a vítima, o jornalista Carlos Lacerda, de revelar um escândalo familiar que determinou a deportação de sua mulher, Ingeborg Ten Haeff, 20 anos, de nacionalidade alemã, para os Estados Unidos, em 1943.

Machado reproduz, ao longo do livro, toda a crise política iniciada em 1 de maio de 1954, quando Vargas autoriza o aumento de 100% do salário mínimo, seguindo-se da demissão de seu ministro do Trabalho, João Goulart, derrubado por um manifesto de coronéis do Exército, até o atentado contra o jornalista, em que acabou morrendo um major da Força Aérea, Rubens Vaz, desencadeando um processo militar que levou o presidente à virtual queda por pressão dos brigadeiros, almirantes e um grupo de generais. Entretanto, embora escreva que o suicídio era uma alternativa nos planos de Vargas para responder à sua deposição, o gesto final decorreu de lances até agora não explicados.

Chave do enigma

A chave para o enigma seria conhecer o teor da última conversa de Vargas com seu irmão Benjamim, horas antes de sua morte. Em seu trabalho de pesquisa, Machado descobriu, vivendo em Nova York, à ex-mulher de Luthero, que lhe contou detalhes de seu relacionamento com o filho do presidente e o motivo verdadeiro da separação. Segundo está em "Getúlio", Luthero teria surpreendido Inge em atos libidinosos com outra mulher, o que determinou sua expulsão do País. A justificativa oficial, no entanto, foi que a nora do presidente seria uma espiã do Eixo, denunciada pelos serviços de inteligência norte-americanos.

Ainda segundo o autor, Inge, como era conhecida, sumiu-se e ninguém mais no Brasil interessou-se em seguir-lhe os passos. Entretanto, o chefe dos serviços de inteligência dos Estados Unidos na América do Sul, Paul Johnston, fez chegar documentação informando desse escândalo às mãos de Carlos Lacerda, que pretendia publicá-los naqueles dias, com uma manchete garrafal de grande impacto: "Luthero Corno de Mulher", seria o título do jornal Tribuna da Imprensa. Informado, Benjamin levou a notícia ao presidente, que decidiu, então, precipitar os fatos e dar a virada histórica que, efetivamente, seu suicídio provocou, abafando a continuidade do escândalo que envolvia sua família e principais colaboradores.

Inge é a última testemunha da tragédia familiar. Atualmente, com 88 anos, vive no prédio 25, Washington Square North, em Nova York, trabalhando como pintora, expressionista, com certo renome naquele País. Nunca foi acusada de espiã e chegou àquele país com passaporte brasileiro, pois, na época de sua deportação, a Alemanha já estava em guerra com os Estados Unidos.

Quando ao suicídio em si, embora fosse uma alternativa de ação, os fatos políticos ainda se encontravam verdes para um ato tão drástico: sua base parlamentar era firma, pois recusara um pedido de impeachment em 4 de junho; o ministro do Exército, general Zenóbio da Costa, recusara-se a depô-lo, tolerando apenas uma licença; e os governadores estavam fora da trama. Portanto, ainda haveria campo para novos desenvolvimento. Por isto, Machado deduz que um fato pessoal foi que desestabilizou o velho Getúlio Vargas.