Título: Delfim Netto assume o Conselho de Economia
Autor: Otto Filgueiras
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/11/2004, Nacional, p. A-5

O deputado Delfim Netto (PP-SP) assume hoje a presidência do Conselho Superior de Economia do Instituto Roberto Simonsen, vinculado à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Crítico da atual política monetária de juros altos do Banco Central e defensor do crescimento econômico puxado pelas exportações, Delfim Netto foi ministro da Fazenda durante o regime militar, de março de 1967 até março de 1974, nos governos do marechal Arthur da Costa e Silva e do general Emílio Garrastazu Medici.

Economista formado pela Faculdade de Ciências Econômicas e Administração da Universidade de São Paulo (USP), onde se tornou professor catedrático, Delfim Netto foi o mentor do "milagre econômico" durante o regime militar.

Embora alguns autores digam que, originalmente, do ponto de vista teórico o pensamento de Delfim Netto fosse vinculado à escola monetarista neoclássica, ao liberalismo econômico e ao antiestatismo, quando foi ministro nos governos de Costa e Silva e de Medici ele usou os instrumentos de intervenção estatal na economia.

Mas, em 1979, quando assumiu o Ministério do Planejamento, no governo do general João Baptista Figueiredo, e teve de enfrentar recessão e a falência do "milagre", que ele mesmo gestou anos antes, Delfim Netto usou os instrumentos técnicos monetaristas e deu ênfase ao controle dos salários como meio de combater a inflação. Depois, por causa da elevação da dívida externa brasileira, e como o país ficou sem condições de saldar seus compromissos financeiros internacionais, foi ele quem fez as negociações com os credores estrangeiros e o Brasil recorreu ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

O pensamento de Keynes

No entanto, o próprio deputado Delfim Netto se define com um keynesiano, desenvolvimentista, defensor de uma política industrial para o Brasil e a favor de uma certa intervenção estatal na economia. É que o keynesianismo, originário do pensamento de John Maynard Keynes (1883-1946), o mais importante economista da primeira metade do século XX, defende uma modalidade de intervenção do Estado na vida econômica, com a qual não se atinge totalmente a autonomia da empresa privada, e que prega a adoção, no todo ou em parte, das políticas sugeridas na principal obra de Keynes, "A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda", de 1936.

"Tais políticas propunham solucionar o problema do desemprego pela intervenção estatal, desencorajando o entesouramento em proveito das despesas produtivas, por meio da redução das taxas de juros e do incremento dos investimentos públicos", segundo informa Paulo Sandroni, no "Novíssimo Dicionário de Economia".

Autoridade produtiva

Portanto, não é por acaso que Delfim Netto é um dos nomes escolhidos pelo atual presidente da Fiesp, Paulo Skaf, para fortalecer a principal entidade da indústria paulista. A escolha de Delfim Netto, e de outras "personalidades notáveis", faz parte do objetivo perseguido por Skaf de criar no País "uma autoridade produtiva" para se contrapor à "autoridade monetária". O embaixador Rubens Barbosa vai assumir a presidência do Conselho Superior de Comércio Exterior.

A solenidade de posse será hoje a noite, às 20 horas, na área livre do Museu Paulista e Parque da Independência (Museu do Ipiranga), no bairro do Ipiranga, região sudeste da capital paulista.

Também tomarão posse os novos presidentes do Conselho Superior de Assuntos Jurídicos e Legislativos e do Conselho Superior de Tecnologia e Competividade. O evento faz parte da estratégia da Fiesp de demonstrar a força política e produtiva da indústria paulista, a mais importante do Brasil.

Embora de forma tímida, a Fiesp questiona em parte a hegemonia do capital financeiro na economia brasileira, principalmente em relação à política de juros altos praticada pelo Banco Central. A entidade entende que taxa de juros elevada prejudica a atividade industrial e dos demais setores produtivos. Paulo Skaf defende a participação de um representante da indústria no Conselho Monetário Nacional (CMN), e para isso conta com o apoio do vice-presidente da República, José Alencar.