Título: Falta de diálogo entre os governistas e a oposição
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/11/2004, Poítica, p. A-5

MPs trancam a pauta e a semana poderá passar em branco. A semana que deveria ser de retomada da pauta de votações da Câmara dos Deputados começa nebulosa e repleta de incertezas. O jantar dos partidos aliados com as legendas de oposição, marcado para a noite de hoje na residência do presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), tem grandes chances de não ocorrer. No mesmo horário, em São Paulo, toma posse o novo presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), Paulo Skaff, e o mundo político está convidado. Nem os próprios aliados sabem se haverá ou não o encontro. De última hora, surgiu um almoço, marcado para amanhã, dos líderes aliados - desta vez sem a presença dos membros da oposição - com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Alguns duvidam da eficácia de um encontro com o presidente Lula neste momento, que está debruçado na mesa do Planalto com técnicos da área social para arrumar uma maneira de fazer deslanchar projetos como o Bolsa Família e Fome Zero. Outros parlamentares ainda lamentam a perda da chance de fechar um acordo de votação também com PFL e PSDB, que estão aberto às negociações. " É um prenúncio péssimo para uma semana que considerada decisiva", resumiu o líder do PPS na Câmara, Júlio Delgado (MG).

Emenda da Reeleição

Como se não bastasse uma pauta trancada por 21 medidas provisórias, diversos fantasmas e esqueletos assombram a Câmara. Limpar a pauta significa ressuscitar a emenda da reeleição para as Mesas Diretoras do Congresso, projeto político que está moribundo, mas ainda passeia na imaginação dos presidentes da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP) e do Senado, José Sarney. "O João Paulo fala que, por ele, o assunto está encerrado. Mas não está. Se estivesse, daria garantias de que o tema não entrará mais na pauta. Essa garantia ele jamais deu", confirmou um líder partidário, que preferiu anonimato. O senador Renan Calheiros (PMDB-AL), parlamentar que luta contra a emenda, garante que matéria não entrará em pauta no Congresso por enquanto, mas admite a pressão do Executivo e também dos presidentes das duas Casas para colocar a MP em pauta. "Há possibilidade como todas as outras MPs" resumiu o senador peemedebista alagoano.

Com isso, o PMDB, maior partido da base aliada - depois do PT - puxa o freio de mão na disposição para votar algo. O partido também tem dois outros motivos para ser cauteloso em qualquer conversa com o Planalto. Na quarta, a Executiva Nacional peemedebista reúne-se em Brasília, para definir se fica ou não no governo. Se depender dos governadores da sigla, que se reuniram na última sexta em São Paulo, o desembarque é imediato. Todos os governadores do partido querem mais independência.

A oposição também não tem nenhuma disposição em facilitar a vida de João Paulo. Pefelistas e tucanos são contrários à reeleição e prometem manter a operação tartaruga, obstruindo as votações.

"Votaremos, sem dúvida. Mas não as 21. Quem sabe umas três, quatro" confirmou um deputado pefelista.

O PFL comemora a vitória em relação ao projeto do Conselho Federal de Jornalismo (CFJ). Vitória que pode ainda não estar consolidada. O partido negociou com a presidência da Casa que o projeto encaminhado pelo Executivo será colocado em votação e rejeitado. O líder José Carlos Aleluia (BA) nem chega a contabilizar a conquista, avaliando que o Conselho é um filho enjeitado por todos - Planalto, oposição e aliados. Há quem discorde disso.

"O acordo sobre o CFJ foi fechado pelo João Paulo com o PFL. Este tema jamais foi debatido com os demais líderes", protestou um deputado aliado.

O líder do PT na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), também vê com preocupação as incertezas que iniciam a semana. Como todos os aliados, aguarda para hoje uma confirmação se haverá ou não jantar à noite com a oposição.

"Na reunião de líderes de duas semanas atrás, ficou acertado um encontro com a oposição para aparar as arestas. Não havia nada previsto com o presidente da República", confirmou, perplexo.

Outro impasse pode ainda embaçar o meio-campo. No próximo dia 15, encerram os prazos de empenho de emendas parlamentares. Alguns líderes temem que os partidos dito não ideológicos - PP, PTB e PL - também façam corpo mole, esperando que as emendas sejam de fato liberadas, antes de ajudar nas votações em plenário. As três legendas têm demonstrado sua insatisfação com algumas ações tomadas pelo governo nessa área. "O governo precisa fazer algo, aparar as arestas, juntar os cacos, para avançar na pauta do Congresso e votemos tudo até 15 de dezembro", cobrou o líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande.