Título: Álcool poderá aumentar ainda mais
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Fonte: Gazeta Mercantil, 08/11/2004, Energia, p. A-7

Os preços do álcool, que subiram mais de 15% para as distribuidoras desde o início de outubro, devem aumentar ainda mais nas próximas semanas, com a perspectiva de uma oferta mais limitada na entressafra, disseram traders na sexta-feira. A oferta também está mais apertada que o previsto nesta época do ano porque houve um aumento inesperado do consumo nos últimos meses, assim como das exportações do produto, principalmente no primeiro semestre.

Postos de combustíveis elevaram em cerca de 2% os valores da gasolina na semana passada devido ao aumento do álcool, que é misturado ao derivado do petróleo na proporção de 25% do total.

A safra de cana na região centro-sul do país - que responde por 85% da produção brasileira - normalmente começa em maio e acaba em novembro. Este ano, como houve atraso no início da temporada, devido às chuvas, e há muita cana ainda disponível, o setor pretende prolongar a moagem até o fim de dezembro. Mas isso ainda vai depender das chuvas, que normalmente aumentam na região nesta época e podem atrapalhar o prolongamento da safra.

Segundo corretoras de São Paulo, o álcool anidro, que é misturado à gasolina, era vendido na sexta-feira às distribuidoras por até R$ 1.050 cada mil litros (base Ribeirão Preto, com imposto), ante cerca de R$ 900 há um mês. A última vez que o álcool bateu R$ 1 mil foi em março de 2003, quando o governo chamou o setor para pedir explicações sobre o elevado aumento de preço do produto.

Os usineiros alegam que a elevação reflete uma situação de mercado e que segue uma recomposição de preços, que estavam exageradamente baixos no começo do ano. Em março, com a perspectiva de safra recorde de cana e estoques elevados, o anidro chegou a sair por R$ 350 cada mil litros, abaixo dos custos de produção.

Foi justamente este nível de preços que colaborou para uma expansão da demanda, de aproximadamente 840 milhões de litros mensais em maio para cerca de 1,3 bilhão de litros nos últimos meses, segundo a consultoria Canaplan.

"Ainda há espaço para aumento do álcool, de até mais 17%, considerando os atuais preços da gasolina nos postos", afirmou outro corretor, lembrando que o derivado de cana tem que custar até 70% do valor da gasolina para ser interessante para o consumidor. Segundo os corretores, o álcool está sendo vendido, em média nos postos da cidade de São Paulo, por R$ 1,33, ante R$ 2,28 da gasolina.

O consumo do álcool normalmente é bem sensível aos preços do combustível. Com uma alta, a demanda em geral se retrai. Mas com a economia aquecida, o reflexo agora pode não ser tão rápido, diz um dos corretores. Além disso, o perfil do mercado pode estar mudando devido o sucesso de vendas dos veículos flexíveis.