Título: Quem não fechou as portas atende mal
Autor: Mariz, Renata ; Dolores, Ana Cláudia
Fonte: Correio Braziliense, 07/04/2011, Brasil, p. 10

Brasília e Recife ¿ Enquanto a população idosa cresce em ritmo acelerado, as ações do governo federal no combate à violência sofrida por brasileiros nessa faixa etária andam a passos lentos. A principal política com tal finalidade, aprovada em 2007, previa a abertura, até o ano passado, de 27 centros de referência para atendimento dos casos de violações de direitos ¿ com assistentes sociais, advogados e psicólogos. Terminado 2010, depois de investir R$ 1,2 milhão, a Secretaria de Direitos Humanos só conseguiu abrir 16 serviços, dos quais muitos já fecharam as portas ou funcionam de forma precária. Mesmo entre os oito centros que atualmente recebem recursos da União, há exemplos de falta de assistência.

Salvador é um caso curioso, pois, apesar de estar na lista de instituições com convênio vigente, segundo a Secretaria de Direitos Humanos, tendo recebido quase R$ 400 mil entre 2008 e 2009, o serviço está fechado desde novembro passado. Por meio da assessoria de imprensa, a Secretaria de Justiça da Bahia informou que o núcleo paralisou as atividades devido à falta de repasses da União. Em Goiânia, que também recebe dinheiro do governo federal, o atendimento deixou de ser exclusivo para idosos.

¿Travestis, mulheres vítimas de violência, quilombolas, serve a todos, menos aos idosos. Nós não contamos com esse serviço quando recebemos denúncias de violência, recorremos logo ao Ministério Público. Imagine colocar uma pessoa de 80 anos, que já tem barreiras para denunciar, ao lado de um travesti¿, reclama Carmecita Balestra, gerontóloga e presidente do Conselho Estadual do Idoso de Goiás. Coordenadora da área na Secretaria de Direitos Humanos, Sandra Regina Gomes ressalta que o modelo goiano deve ser adotado em todos os outros centros. ¿Estamos diante da violência contra os direitos humanos, esse é o mote da secretaria¿, afirma a gestora. Ela destaca, ainda, que o convênio para implantação dos centros deve durar um ano. Depois, o serviço precisa andar com as próprias pernas.

Promotora do idoso em Natal (RN), Iadya Gama Maio discorda da abertura do serviço a outros públicos. ¿O idoso precisa de uma especificidade no atendimento¿, diz, lamentando o fechamento de um centro financiado pelo governo federal na capital potiguar. ¿Quando o convênio acabou, o estado não o manteve¿, diz. Outro serviço na mesma situação é o de Pernambuco. Inaugurado em junho de 2008, a unidade funcionou até 2010, quando o governo estadual assumiu. Desde então, conta com apenas um funcionário para prestar o atendimento. Nem o horário reduzido de atendimento ¿ que termina às 13h ¿ é cumprido. Coordenadora do serviço, Paula Regina Machado afirma que, devido à falta de pessoal, o atendimento se resume a encaminhar os idosos a postos de saúde, delegacias, entre outros.