Título: Valor tirado de empresas pode chegar a 6% do faturamento
Autor: Janaína Leite
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/11/2004, Legislação, p. A-9

Empregado menos graduado frauda mais e executivo causa maiores perdas. Cerca de 70% das fraudes contábeis ocorridas nas empresas são resultado da ação de empregados menos graduados, mas as perdas com esquemas projetados por executivos resultam, em média, em prejuízos 14,5 vezes maiores. A conclusão é da Association of Certified Fraud Examiners (ACFE), entidade com sede nos Estados Unidos, que reúne 30 mil peritos em investigação de crimes financeiros espalhados por todo o mundo.

Foram estudados 508 casos de delitos pelos especialistas. Juntos, significaram perdas de US$ 761 milhões -para se ter uma idéia do tamanho do rombo, basta lembrar que o montante é maior do que o lucro do Bradesco, maior instituição financeira privada do Brasil, acumulado de janeiro a setembro deste ano. Na estimativa dos investigadores, porém, o valor subtraído dos caixas das empresas pode chegar a 6% do faturamento.

As maiores vítimas são as companhias privadas (41,8%). Depois, com 30,3%, aparecem as estatais. O governo foi lesado em 15,8% dos casos, além do que foi observado em organizações sem fins lucrativos (12,2%). "Por aqui o resultado é bem diferente. Faltam pessoas habilitadas para auditar o setor público. Por isso, as fraudes vêm crescendo, em quantidade de casos e valores subtraídos", observa o representante da ACFE no Brasil, Marcelo Gomes, da GBE Peritos. "A relação de auditores nos países desenvolvidos é de, em média, um para cada quatro funcionários do governo. Aqui os especialistas habilitados não chegam a 10% do total de servidores."

O índice de golpes é muito alto nas pequenas empresas, que empregam cem trabalhadores ou menos. Conforme a ACFE, elas representam 45,8% dos casos. Quanto maior a empresa, menor a chance de fraude, devido ao investimento em prevenção, como, por exemplo, auditorias externas e internas, além de acompanhamento sigiloso por parte de peritos.

A indústria de manufatura é a que mais sofreu golpes (12,9% do total), com perdas médias na casa dos US$ 125 mil. Em segundo lugar aparecem os bancos (11,1%), com US$ 101 mil de rombo. A área de serviços surge empatada (11,1%), mas amargou prejuízos maiores, de US$ 139 mil. O governo aparece na terceira colocação (10,5%), com US$ 45 mil em verbas desviadas.

Desvio de recursos em espécie, a chamada fraude "cash", são os preferidos pelos criminosos (92,7%). Apesar disso, em prejuízos absolutos, apareceram em último lugar. Nos casos de corrupção (30,1%), o valor perdido aumenta 2,7 vezes. Esquemas mais sofisticados, geralmente envolvendo falsificação de dados contábeis, são os menos comuns -ou os mais difíceis de serem detectados-, aparecendo em apenas 7,9% do total levantado. A perda média com esse tipo de contravenção, contudo, é de US$ 1 milhão, valor que pode chegar a US$ 50 milhões em algumas situações.

No perfil traçado pela ACFE, os fraudadores mais danosos às empresas são executivos, donos ou ligados ao comando, homens casados e com alto rendimento. Têm entre 41 anos e 60 anos, possuem diplomas universitários ou de pós-graduação e nunca foram acusados de crime algum. A ACFE constatou, porém, que o número de mulheres envolvida nas redes de corrupção cresceu. Passou de 46,5% registrados em 2002 para 47,1% em 2004.

A maioria dos criminosos aplica apenas um golpe contra os empregadores (65,1%). Dos males, o menor. Prejuízos causados por quem tem o costume de colocar a mão em dinheiro alheio são, em média, o quádruplo de quem comete o delito uma única vez.

Contar com a polícia não é o melhor jeito de encontrar os ladrões, ao menos aqueles interessados em desviar dinheiro das empresas. Apenas 2% dos crimes cometidos por executivos ou controladores foi notificado pelos policiais. Auditorias externas e internas mostram-se melhor sucedidas. Nos cálculos da ACFE, as primeiras respondem por 27,5% da detecção de esquemas ilegais. As auditorias internas, por sua vez, aparecem com 23,5%. Mas o melhor modo de se prevenir é mesmo apostar, também, em controles internos específicos (51%).