Título: Declaração final propõe debate de restrições a gastos em infra-estrutura
Autor: Daniele Carvalho e Riomar Trindade
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/11/2004, Internacional, p. A-9

A Cúpula do Grupo do Rio encerrou os trabalhos, na última sexta-feira, com a promessa de um novo encontro, desta vez na Colômbia, para discutir alternativas às restrições do Fundo Monetário Internacional (FMI) aos gastos em infra-estrutura. De acordo com as regras do fundo, estas despesas entram no cálculo do superávit primário dos países, o que para os chefes de estado é um entrave a projetos importante para integração e desenvolvimento da região.

"Convidamos os representantes da região ante o FMI para a reunir-se na Colômbia, ainda este ano, para definir uma posição conjunta. Mesmo assim acordamos que um grupo de presidentes deverá buscar contato com a direção do FMI, BID (Banco Interamericano e Desenvolvimento) e da CAF (Corporação Andina de Fomento)", diz um dos 22 itens da Declaração do Rio, produzida pelos presidentes durante o evento.

O Brasil já vem negociando com o FMI mudanças no cálculo do superávit, mas até agora em sucesso. De acordo com uma fonte que participou da elaboração do documento, a união dos países em torno do assunto dará maior peso à argumentação.

"Agora falaremos a mesma língua!", teria dito um dos presidente presentes no evento, referindo-se a Rodrigo Rato, diretor gerente do FMI, que é espanhol.

De acordo com o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, outra importante discussão no âmbito de acordos econômicos bilaterais ocorreu com o presidente do México, Vicente Fox. O diplomata comentou que o presidente Lula manteve conversas com Fox sobre uma possível visita ao México.

"Foi comentada, também, a possibilidade de parcerias entre a Petrobras e o governo mexicano, para a exploração de petróleo naquele país", acrescentou Amorim.

Outro acordo bilateral de relevância foi fechado com o Peru, facilitando o acesso do Brasil ao oceano Pacífico. De acordo com o chanceler do Peru, Manuel Rodriguez, a ligação será feita do Acre até o distrito de Madre de Diós, no Sul do país vizinho.

"Desta forma, os exportadores do Norte do Brasil não precisaram mais enfrentar de 18 a 20 horas de estrada para chegar até o Oceano Atlântico. Agora, em pouco mais de uma hora, será possível chegar ao Pacífico", acrescentou ele. O projeto consiste na construção de uma ponte - já em obras - e rodovias.

A ausência mais comentada da Cúpula do Grupo do Rio foi a do presidente da Argentina, Néstor Kirchner - que será o anfitrião do próximo encontro do grupo, na Argentina - o que forçou mudanças no cerimonial do evento. O encerramento junto à imprensa seria feita pelos chefes de estado, mas como Kirchner não compareceu, os organizadores acharam melhor colocar apenas os chanceleres (Peru, Brasil e Argentina) na declaração final.

Ó chanceler argentino, Rafael Bielsa, disse que o presidente não pode comparecer por estar tratando da definição da matriz energética do país para o ano que vem. "Este é um assunto muito importante, que tem influencia no Brasil, Chile e Bolívia", disse Bielsa.

O ministro do Planejamento, Guido Mantega, disse na sexta-feira, no Rio, que a proposta de criação da Autoridade Sul-americana de Investimentos (ASI), um dos temas da reunião de presidentes do Grupo do Rio, não avançou o suficiente para o surgimento do novo organismo que serviria para realizar financiamentos em infra-estrutura. "Havia a proposta da ASI, mas que não ficou madura o suficiente para ser aprovada como proposta do Grupo do Rio. Há um encaminhamento que está sendo proposto para que se discuta a questão dos limites fiscais e isso será feito em breve", explicou.

Telefonema de Bush

Na conversa que o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, teve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por cerca de dez minutos, na sexta-feira, Bush agradeceu os cumprimentos enviados por Lula por sua vitória nas eleições e ambos conversaram sobre os esforços dos governos de Washington e de Brasília para continuar mantendo as atuais boas relações. O presidente Lula aproveitou para relatar aspectos da reunião do Grupo do Rio, sobretudo em relação ao Haiti.