Título: Brasil pode ter escassez de sementes
Autor: Alexandre Inacio
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/11/2004, Agribusiness, p. B-12

A oferta de sementes de algodão certificadas pelo Ministério da Agricultura pode ser comprometida para a safra 2004/05. A contaminação das sementes convencionais por variedades geneticamente modificadas está fazendo com que a comercialização fique estagnada, exatamente no período em que os produtores se preparam para plantar a próxima safra.

"Pedimos para que o ministério liberasse a comercialização com uma tolerância de 1% para presença sementes transgênicas, mas o governo disse que precisa ter um parecer da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio)", afirma Ywao Myamoto, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Sementes (Abrasem).

Indefinição no governo

Apesar da proximidade do período de plantio e da decisão estar nas mãos da CTNBio, a entidade só terá uma definição, se aceitará ou não o pedido da Abrasem em sua próxima reunião. "Ainda não temos uma conclusão. Iremos nos pronunciar sobre esse assunto apenas na próxima reunião, que acontece nos dias 17 e 18 de novembro", afirma Jairon do Nascimento, coordenador geral da CTNBio.

Falta de sementes

No caso de o governo não autorizar a tolerância de 1%, Myamoto considera que poderá faltar sementes certificadas. "Se faltar sementes a oferta de algodão será muito menor. Sem pluma, as indústrias terão que importar algodão de nossos concorrentes, que só cultivam variedades geneticamente modi-ficadas, ou seja, não faz o menor sentido", afirma Myamoto, ao cobrar um pouco mais de bom sendo por parte do governo.

Apesar de a situação do algodão transgênico ser muito semelhante ao que aconteceu com a soja, as empresas que comercializam as sementes consideram que o caso um pouco mais complicado. "As empresas que comercializam não podem se expor, vendendo um produto que não é autorizado pelo governo. Além disso, quem garante a qualidade das fibras produzidas são as próprias empresas", afirma Peter Ahlgrimm, diretor da Bayer CorpScience, ao lembrar que boa parte das sementes da empresa não será comercializada.

Do ponto de vista dos produtores, a liberação dos transgênicos é aguardada com ansiedade. "O governo não aprendeu a lição com os problemas que já teve com a soja. O Brasil quer ser diferente em algo que o mundo inteiro é igual", afirma Tarcísio Sachetti, produtor de algodão do Mato Grosso.

O custo médio de produção de um hectare de algodão é de US$ 1.200. Segundo a Abrasem, com a utilização de transgênicos os produtores poderiam reduzir em 20% os custos com a lavoura. "Os produtores não têm interesse em ir contra as leis em vigor. Por outro lado, temos um negócio para tocar. Em um ano de preços baixos no mercado, liberar os transgênicos poderia significar a salvação para muita gente", afirma Sachetti.