Título: Aumenta a demanda por algodão
Autor: Alexandre Inacio
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/11/2004, Agribusiness, p. B-12

Indústrias devem comprar mais em 2005 por causa da alta dos preços das fibras sintéticas. A demanda das indústrias têxteis no Brasil por algodão deverá crescer 12,5% em 2005. Levantamento da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) prevê que a necessidades das empresas será de 900 mil toneladas no próximo ano, ante um consumo de 800 mil em 2004.

O principal motivo para o aumento da demanda é a alta nos preços do petróleo, que já subiram 50% este ano. O resultado do aumento das cotações da matéria-prima foi um crescimento nos preços do poliester - principal concorrente do algodão - que já acumula uma alta de 102,9% em 2004.

"O preço médio de exportação das fibras de poliester no ano passado foi de US$ 1,03 o quilo. De janeiro a outubro o valor já está em US$ 2,09", afirma Fernando Pimentel, diretor da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). O executivo lembra que o aumento dos preços do petróleo deverá elevar os valores dos produtos finais que derivam da matéria-prima e abrirá espaço para uma substituição de produtos.

Além dos preços do poliester, outro ponto que pesa a favor do algodão é o fato de as fibras naturais estarem em alta no circuito da moda. "Tudo que é natural e vem da natureza está ganhando espaço e força no mercado e o algodão está nessa onda. E esse provável aumento da demanda pelas fibras naturais por parte das indús-trias brasileiras pode facilmente ser atendida pelos produtores nacionais", afirma Pimentel.

De acordo com o Internacional Cotton Advisory Committee (Icac), o consumo mundial de algodão na safra 2004/05 está sendo estimulado pelos baixos preços do produto no mercado internacional, em combinação com o crescimento econômico mundial. A perspectiva é de um incremento de 600 mil toneladas na demanda, que será de 22 milhões de toneladas. Esse volume representa um crescimento de 3% sobre o consumo registrado na safra anterior.

Aumento da oferta

E o sentimento de grande oferta de pluma do representante das indústrias não é por acaso. Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), mostram que a produção de 2,04 milhões de toneladas de algodão em caroço produzidas na safra 2003/04 terá um crescimento entre 4,3% e 10% na próxima temporada.

Sem o caroço, a produção apenas da pluma na próxima temporada deve ficar em 1,4 milhão de toneladas, segundo previsão da Abrapa. O volume será 12% maior do que o colhido na safra 2003/04, quando foram colhidas 1,25 milhão de toneladas.

Não bastasse o aumento da produção no Brasil, a oferta mundial também será maior na próxima safra. Os dados do Icac indicam que a produção mundial da pluma será de 31,8 milhões de toneladas na safra 2004/05. A estimativa representa um aumento de 9% em comparação com a safra anterior.

O aumento da produção mundial deverá representar um incremento na oferta de 2,7 milhões de toneladas de algodão no mercado internacional. De acordo com o Icac, esse será o maior crescimento anual desde a safra 1986/87.Mesmo com o aumento da demanda das indústrias, os produtores não estão tão otimistas. A oferta mundial de algodão está muito grande, o que deve limitar as exportações da pluma em 2005 e manter os preços nos atuais patamares.

Queda de preços

"Este ano vamos exportar 450 mil toneladas, mas para 2005 só temos contratadas apenas 250 mil. Por mais que o mercado interno consuma 900 mil toneladas, sobrarão 250 mil toneladas, que precisarão ser escoadas de alguma forma, o que provavelmente pressionará os preços", explica João Luiz Ribas Pessa, presidente da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa).

Apesar de oferta e demanda em trajetória ascendente, os preços médios do algodão devem cair 30% na próxima safra. A perspectiva do Icac é que os valores fiquem ao redor de 48 centavos de dólar por libra-peso.

Na bolsa de Nova York, no entanto, as cotações do algodão já estão bem abaixo das estimativas da entidade. Na última sexta-feira, os contratos para entrega em março foram negociados a 43,74 centavos de dólar por libra-peso. O atual nível de preço está 46,6% inferior ao registrado no mesmo período do ano passado e, ao longo de 2004, as cotações da pluma na bolsa americana já acumulam retração de 43,5%.