Título: Desenvolvimento e crédito
Autor: Rodrigo da Rocha Loures
Fonte: Gazeta Mercantil, 09/11/2004, Opinião, p. A-3
Não se deve, para conter a inflação, fragilizar a economia. A garantia do crescimento sustentável da economia brasileira, com estabilidade de preços, exige adequado sistema de intermediação financeira que canalize recursos para o setor produtivo. Após mais de quatro décadas de inflação consentida e de quase três décadas de recessão, a imposição de fortes metas para conter a inflação pode apenas fragilizar a economia e beneficiar interesses específicos.
Inflação não se combate com juros elevados e sim com aumento de produtividade. Isso é o que conduz o País ao desenvolvimento sustentado. Consideramos que neste cenário a política monetária deva ser um coadjuvante - obrigatório, mas não central - para que o drama tenha um final feliz e o espetáculo agrade e beneficie a todos os setores da sociedade, segmentos produtivos e o próprio governo.
Trabalhando nesse sentido, organizamos a Academia Paranaense de Desenvolvimento, com a participação de empresários e doutores das principais universidades da região. Nos encontros realizados, o papel da intermediação financeira no desenvolvimento tem sido tema predominante. Por isso elaboramos elenco de sugestões para mudanças no curso da política econômica do País:
1) Adotar metas de inflação constantes ou levemente declinantes, evitando assim que elevações na taxa Selic inibam a manutenção da retomada do crescimento econômico. 2) A autonomia operacional do Banco Central deve limitar-se aos instrumentos de política, ficando a definição de metas de inflação para o Conselho Monetário Nacional. 3) Incluir no Conselho Monetário Nacional membros dos diversos setores produtivos do País. 4) O Banco Central deve apresentar um programa efetivo e definido para reduzir as margens operacionais do sistema bancário. 5) Reduzir o peso da tributação incidente nas operações financeiras para o setor produtivo. 6) Adotar medidas visando à redução dos custos de inadimplência. 7) Reduzir progressivamente os depósitos compulsórios, premiando os bancos que melhor atuem na redução dos spreads. 8) Negociar a desindexação dos contratos de serviços públicos, reforçando o papel do mercado e das agências reguladoras e eliminando privilégios. 9) Adotar um padrão de núcleo de inflação para reduzir o impacto de choques externos, uma vez que nesse caso a política de juros é ineficaz. 10) Evitar a valorização do real, garantir a promoção de exportações e adotar política tributária favorável à reinversão dos lucros pelas empresas.
Este conjunto de proposições pode recuperar o vigor do setor produtivo nacional, já que nossas empresas vivem hoje como esportistas de alta performance que não atingem suas melhores marcas por causa da desnutrição. A principal refeição do dia ainda consiste em financiamento reduzido, temperado com juros elevados. Assim, não há corpo empresarial que resista e nem desenvolvimento que se sustente.
A melhoria do sistema financeiro brasileiro criará condições para a transferência de recursos ao setor produtivo, estimulará o espírito empresarial, alocará empréstimos com prazos compatíveis e captará poupança externa para complementar as necessidades de investimento interno.
Um novo sistema de intermediação financeira, diversificado e eficiente, pode contribuir, e muito, para a retomada do desenvolvimento. Crédito abundante expande a produção, o que resulta em aumento simultâneo da produtividade - o maior antídoto para conter pressões para elevação de preços. Com uma política econômica dinâmica e eficiente, podemos afugentar o fantasma de uma terceira década de raquíticos resultados econômicos.
kicker: A melhoria do sistema financeiro permitirá dotar o setor produtivo de recursos