Título: FGV muda IPA para melhor mostrar repasses de preços
Autor: Samantha Lima
Fonte: Gazeta Mercantil, 09/11/2004, Nacional, p. A-4

Combustíveis acumularam alta de 366% na produção de bens duráveis. O Índice de Preços por Atacado (IPA), a ser apresentado hoje pela Fundação Getulio Vargas (FGV) quando da divulgação do Índice Geral de Preços (IGP-DI) do mês de outubro, terá uma forma de apresentação mais detalhada. A partir de agora, os 462 itens que têm os preços no atacado acompanhados serão classificados em três estruturas ¿ matérias primas, bens intermediários e bens finais, com um total de 19 subdivisões. O modelo anterior, que classificava os produtos como de origem ou de destino, com quatro subdivisões no total, continuará sendo calculado, mas a idéia da instituição é que não sejam mais utilizados.

De acordo com a FGV, o objetivo da mudança é permitir uma melhor compreensão do processo de transmissão de preços ao longo da cadeia produtiva. A metodologia do índice, que passa a se chamar IPA-EP (segundo Estágios de Processamento), não sofrerá mudanças, ou seja, serão feitos os mesmos cálculos de antes para se chegar ao percentual mensal de variação. Os produtos pesquisados continuarão os mesmos.

"Estamos jogando luzes sobre o processo de repasse de preços, elevando a precisão dos instrumentos de política monetária, tão importante num sistema de metas inflacionárias", disse o economista da FGV, Wagner Ardeo. A classificação segundo estágios de processamento já é utilizada em outros países, como Estados Unidos, Canadá, Itália e Espanha. O raciocínio da metodologia baseia-se no fato de que uma economia pode ser dividida em segmentos distintos, que se relacionam entre si de forma seqüencial. Assim, o produto da primeira etapa serviria de insumo na segunda etapa e assim sucessivamente, até se atingir a demanda final.

"A passagem dos preços do atacado para o consumidor, no entanto, não é de forma direta nem tem o mesmo peso", disse a coordenadora de metodologia da FGV, Rebeca Barros. Em uma das etapas, por exemplo, o empresário pode optar por absorver um custo, diminuindo sua margem de custo, em função da concorrência local.

Ao abrir as séries históricas com a nova metodologia, pesquisadores da FGV verificaram que os itens que compõem o segmento de matérias primas brutas apresentam as maiores volatilidades. "Isso se explica pela influência da sazonalidade, no caso dos alimentos, e das variações das commodities, que transmitem as oscilações de preços no exterior de forma quase instantânea ao mercado interno", disse Rebeca.

A análise das séries históricas permite concluir, também, que os combustíveis são o grande vilão do processo produtivo. A variação acumulada desde 1999 nos itens aplicados na produção de bens intermediários, que compreendem óleo diesel, óleo combustível, querosene de aviação e lubrificantes, foi de 366%, a maior de todos os segmentos. O aumento dos combustíveis nos preços por atacado dos bens de consumo finais é o terceiro maior da série, de 205%. A variação é tão relevante que a FGV decidiu criar uma série especial no IPA-EP de bens intermediários e bens finais desprezando a influência dos combustíveis.